O Brasil é o país com maior número de milionários da América Latina e a nação mais desigual do mundo. Isso é o que confirma o relatório Global Wealth Report 2025, publicado ontem pelo banco suíço UBS. Segundo a pesquisa, que analisou indicadores de renda das pessoas de 56 países, o Brasil tem 433 mil milionários em dólar e um Coeficiente de Gini — índice que mede desigualdades (quanto mais perto de 1, maior a concentração de renda) — de 0,82.
De acordo com o ranking de milionários elaborado pelo UBS, o México vem abaixo do Brasil, com 399 mil pessoas com renda maior que US$ 1 milhão. No quesito desigualdade, enquanto o Brasil lidera o ranking, a Rússia aparece em segundo e a África do Sul é o terceiro país com maior distância entre classes sociais no mundo. O Índice de Gini da Rússia é 0,82 e o da África do Sul, 0,81 — de acordo com o relatório do UBS.
O levantamento também mostrou que a riqueza pessoal total global aumentou 4,6%, em 2024, em termos de dólares norte-americanos. Esse crescimento foi predominantemente impulsionado pela América do Norte (Estados Unidos, México e Canadá), beneficiada por uma moeda estável e mercados financeiros otimistas, enquanto regiões como Europa Ocidental e América Latina viram sua riqueza encolher em relação a 2023. Os dois continentes encolheram, respectivamente, 4,3% e 1,54%. Segundo o levantamento do UBS, os EUA e a China, em conjunto, respondem por mais da metade de toda a riqueza pessoal na amostra do relatório.
Em comparação com o relatório de 2024, em todo o planeta houve mais de 680 mil novos milionários em dólar norte-americano. Os EUA continuam sendo o principal lar desses milionários, abrigando 23.831 milhões deles, o que representa 39,7% do total global das pessoas que têm mais de US$ 1 milhão.
Herdeiros
O relatório Global Wealth Report 2025 também refere-se ao fato de que boa parte da fortuna dos milionários no mundo são oriundas de heranças. Segundo o levantamento, é possível que haja “grande transferência de riqueza” total de mais de US$ 83 trilhões a ocorrer, globalmente, em até duas décadas e meia.
Deste total, mais de US$ 74 trilhões serão transferências “verticais”. Isso representa que será passada entre gerações (por exemplo, de pais para filhos) e cerca de US$ 9 trilhões serão transferências “horizontais” (por exemplo, entre cônjuges). Paul Donovan, economista-chefe da UBS Global Wealth Management, frisa que a transferência de riqueza é uma tendência, em meio a um cenário de altos níveis de dívida governamental.
Já na avaliação de Geraldo Biasoto, professor do Instituto de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp), o relatório da UBS mostra uma extrema desigualdade de riqueza no Brasil. Segundo ele, essa condição é “impulsionada por altas taxas de juros”.
“No Brasil, o relatório mostra que há muito milionário, só que não tem muito empresário. Esse rico tem a favor o fato de conseguir dinheiro no banco rendendo a juros reais de 9% ao ano”, observa o professor.
Segundo Biasoto, que é ex-coordenador de política fiscal do Ministério da Fazenda, a alta da taxa básica de juros (Selic) — elevada, ontem, a 15% ao ano pelo Comitê de Política Econômica do Banco Central (BC) — provoca uma espécie de rolo compressor da “riqueza velha se transformando e absorvendo recursos dentro do conjunto da economia”. Isso, de acordo com o professor da Unicamp, faz com que investimentos em “riquezas reais” ou em “planta produtiva” só sejam interessantes se renderem pelo menos 9% de juro real ao ano, o que desestimula a produção e o investimento produtivo.
Por Gazeta do DF
Fonte Correio Braziliense
Foto: Ed Alves/CB/D.A Press