Febre, dor de cabeça, dor nas articulações, manchas vermelhas pela pele, tosse, coriza e cansaço extremo. Estes foram alguns dos sintomas que afetaram a saúde de Evelin Mendes, 28 anos. A mulher contraiu dengue ao mesmo tempo em que testou positivo para covid-19. Evelin se recuperou, mas ficou com sequelas, como inflamação nas articulações causada pela dengue, além de funções pulmonares reduzidas e problemas respiratórios devido à covid-19. Especialistas ouvidos pelo Correio alertam que é preciso atenção, pois a coinfecção por ambos os vírus é possível, mas pode passar despercebida pelo fato de alguns sintomas serem os mesmos.
“Uma das dificuldades em identificar que também apresentava sintomas de covid foi o fato de estar tomando medicação contínua para dengue, o que mascarou a febre. Somente no sexto dia, quando diminuí o remédio para dor e febre, é que os sintomas de covid se intensificaram”, relatou Evelin. “Só descobri que também estava com covid cinco dias depois de saber que estava com dengue. No quinto dia, retornei ao hospital, porque estava muito debilitada e, durante a triagem, a enfermagem identificou que minha oxigenação estava anormal, e decidiram solicitar um exame de covid”, completou.
Médico de controle de infecção do Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF), Julival Ribeiro salienta que é preciso ficar atento aos sintomas e também às formas de infecção de ambas as doenças. “A maneira de transmissão é diferente. Uma é pela picada do mosquito, o Aedes aegypti, e a outra por secreções respiratórias. É preciso ficar atento aos criadouros e também ao contato com pessoas possivelmente infectadas pela covid”, alertou o especialista. “Há riscos de sequelas em ambos os casos. A covid, por exemplo, pode gerar alterações hepáticas, cardíacas, neurológicas e pulmonares”, observou.
O infectologista do Hospital Brasília Águas Claras, da rede Dasa no DF, André Bon, alerta sobre a importância do uso de máscaras, mesmo que os sintomas sejam somente de dengue. “Se alguém vai para um serviço de saúde onde pode haver contato com pacientes com sintomas respiratórios, é imprescindível que faça uso de máscara”, aconselhou. O especialista chamou atenção também às possíveis complicações causadas em pacientes com formas graves de dengue e covid-19. “No caso de covid, pode causar insuficiência respiratória e necessidade de ventilação mecânica. As infecções por dengue podem causar colapso circulatório”, ressaltou.
No Distrito Federal, a Secretaria de Saúde (SES) orienta as pessoas com sintomas respiratórios procurem as Unidades Básicas de Saúde (UBS). Nas tendas de acolhimento, são atendidos somente pacientes com sintomas de dengue.
Morte
Na última quarta-feira, Helena Alves, um bebê de apenas oito meses, faleceu, em Planaltina, infectada por dengue e covid-19. A professora Gabriella Alves, 32 anos, mãe de Helena, relata que a criança morreu dois dias após detectar que tinha sido infectada pela dengue. “Ela estava com febre e vomitando. Cheguei a achar que os sintomas eram por causa do nascimento dos dentes, mas não eram”, contou a mãe. “Só descobri que minha filha estava com covid quando saiu o resultado da autópsia. Com bebê, é mais complicado, porque eles não conseguem falar, aí a gente não entende direito o que está acontecendo”, disse.
Incidência
Segundo o Painel de Monitoramento de Arboviroses, atualizado diariamente pelo Ministério da Saúde, somente em 2024, o Distrito Federal teve 117.588 casos prováveis de dengue e 78 mortes pela doença. A quantidade de óbitos no DF representa 28% do total de mortes no Brasil, que registrou 278 falecimentos. Além das mortes confirmadas no DF, outros 73 óbitos estão em investigação e podem ter sido causados por dengue. O Distrito Federal segue sendo a unidade federativa com maior incidência de casos prováveis de dengue por 100 mil habitantes no Brasil, com um coeficiente de 4.174,1.
Com relação à covid-19, segundo o último boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria de Saúde do DF, a taxa de transmissão da doença no Distrito Federal está em 1,2. A taxa de transmissão estima o número médio de casos secundários de uma doença causada por uma uma pessoa infectada durante seu período infeccioso. A reprodução da epidemia pode ser estimada a partir do valor encontrado da taxa. Se for menor do que 1, a epidemia tende a acabar; para R(t) maior do que 1, a epidemia avança.
Reinfecção
A doméstica Verônica Maria, 47, foi até a tenda de Ceilândia, ontem, para acompanhar a filha, Ellen Cristina, 20, que estava com sintomas de dengue. O teste realizado deu positivo, foi a segunda infecção de Ellen em apenas um mês. “Os sintomas foram os mesmos: febre, dor de cabeça e dor no corpo. Não deu outra, dengue novamente”, lamentou.
O coordenador da Infectologia da Rede D’Or do DF, Gilberto Nogueira, explica que uma pessoa que teve quadro de dengue por um sorotipo pode adquirir a doença novamente por outro. “Nos primeiros meses após a dengue, temos altos títulos de anticorpos circulantes que acabam nos protegendo de forma cruzada entre os diferentes sorotipos. A chance de reinfectar e desenvolver a doença poucas semanas após um quadro de dengue é bem pequena, mas ela existe”, esclareceu. “A dengue é uma doença viral que possui quatro sorotipos, e atualmente no DF o sorotipo mais prevalente é o 2, mas temos cerca de 25% dos casos pelas informações epidemiológicas, de dengue pelo sorotipo 1”, complementa.
Kelma Damasceno, coordenadora da tenda de atendimento da Secretaria de Saúde em Ceilândia, relatou que, ultimamente, dos testes de dengue realizados na unidade, a maioria tem dado positivo. “Estamos com uma média de 200 pacientes atendidos por dia. Destes, em média 170 saem daqui com diagnóstico positivo para dengue”, afirmou. A profissional declarou ainda que, por dia, em torno de oito pessoas são transportadas ao hospital com sinais de alarme. “Pacientes com tontura ao se mexer, saturação baixa ou dores abdominais, por exemplo, devem ser encaminhados ao hospital”, pontuou.
Os pacientes com diagnóstico de dengue devem fazer um acompanhamento a cada 48 horas nas Unidades Básicas de Saúde (UBS’s) para verificar a quantidade de plaquetas e acompanhar a evolução da doença. Uma das recomendações é tomar soro caseiro. Para preparar o líquido, basta misturar um litro de água mineral, filtrada ou fervida (mas já fria) com uma colher de sopa de açúcar (20g) e uma colher de café de sal (3,5g). O volume de líquidos deve ser 60 a 80 ml/kg/dia, sendo 1/3 de soro de reidratação oral e os dois terços restantes devem ser ingeridos líquidos caseiros como água, sucos de frutas, soro caseiro, chás, água de coco, etc.
Por Mila Ferreira do Correio Braziliense
Foto: Arquivo pessoal / Reprodução Correio Braziliense