No quinto dia de bombardeios do Irã contra Israel, o presidente Donald Trump sinalizou a possibilidade de os Estados Unidos entrarem na guerra e avisou ao regime teocrático islâmico: “Nossa paciência está se esgotando”. Em uma publicação em sua plataforma Truth Social, o principal aliado de Benjamin Netanyahu enviou um recado ao aiatolá Ali Khamenei. “Nós sabemos exatamente onde o chamado ‘líder supremo’ está escondido. Ele é um alvo fácil, mas está seguro lá. Não o mataremos, pelo menos por enquanto. Mas também não queremos mísseis disparados contra civis ou contra soldados americanos”, acrescentou. Em outro post, ele usou letras maiúsculas: “Rendição incondicional”.
Trump confirmou a supremacia aérea israelense no Irã, mais uma vez utilizando o verbo na primeira pessoa do plural. “Agora, controlamos, completa e totalmente, o espaço aéreo iraniano. O Irã tinha uma abundância de equipamentos defensivos, mas não se comparam aos fabricados, concebidos e produzidos nos EUA.” Durante mais de uma hora, o líder americano reuniu o Conselho de Segurança Nacional, no Salão Leste da Casa Branca. Em seguida, telefonou para Netanyahu. Washington anunciou que sua embaixada em Jerusalém ficará fechada até sexta-feira.
Minutos depois do telefonema, o Irã lançou duas barragens de mísseis balísticos contra o território israelense. Ali Khamenei publicou na rede social X que “a batalha começou”. “Nós devemos dar uma resposta contundente ao regime terrorista sionista. Não mostraremos misericórdia”, avisou. Em meio à guerra de retórica, a emissora estatal iraniana anunciou, para a noite de ontem, “uma surpresa de que o mundo se lembrará por séculos”.
Desde a última sexta-feira (13/6), Israel matou 224 pessoas no Irã, incluindo os comandantes da Guarda Revolucionária, líderes militares, nove cientistas do programa nuclear e civis. Ontem, a cúpula do regime teocrático islâmico teve outra baixa importante: Ali Shadmani, chefe do Estado-Maior em tempos de guerra e comandante militar de alto escalão, foi eliminado. Do lado israelense, pelo menos 24 morreram.
No encerramento da cúpula do G7, o grupo dos sete países mais industrializados do mundo emitiu um comunicado no qual defenderam uma “resolução da crise iraniana” que leve” a uma desescalada mais ampla das hostilidades no Oriente Médio”. No documento, sublinharam que Israel “tem o direito de se defender”.
O presidente da França, Emmanuel Macron, alertou que qualquer tentativa de mudança de regime do Irã terá o caos como resultado. “Acredito que precisamos que os EUA tragam todos de volta à mesa de negociações”, afirmou. O brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva advertiu que “os ataques de Israel ao Irã ameaçam fazer do Oriente Médio um único campo de batalha, com consequências globais inestimáveis”. O Ministério das Relações Exteriores da Rússia considerou ilegais os ataques israelenses e defendeu a diplomacia como única solução para o conflito em torno do programa nuclear de Teerã.
Para Gunther Rudzit, professor de relações internacionais da ESPM, a eventual entrada dos Estados Unidos na guerra entre Israel e Irã envolveria ataques de bombardeiros B2 às instalações nucleares subterrâneas de Fordow e de Natanz. “Os americanos utilizariam outros armamentos para atacar as estruturas de comando e de controle da Guarda Revolucionária e das Forças Armadas iranianas, além da alta liderança política do Irã”, explicou ao Correio. “Não acredito que eles queiram ir atrás do aiatolá Ali Khamenei, mas farão operações o mais abrangentes possíveis. Teerã responderá com bombardeios às bases dos EUA.”
Rudzit duvida de ataques iranianos a navios petroleiros. “Isso prejudicaria a economia global, consequentemente a da China, um grande aliado do Irã. Por isso, creio que as ações se resumiriam ao âmbito militar”, disse. O especialista da ESPM considera a exigência de rendição incondicional mais uma das hipérboles usadas por Trump. “Uma rendição incondicional é aquilo que o Japão e a Alemanha fizeram ao fim da Segunda Guerra Mundial. Nesse cenário, o Irã se renderia por completo aos EUA, que teriam a incumbência de refazer toda a estrutura jurídica e política do país. Trump sabe que o Irã não aceitaria isso.”
BRASILEIROS NO MEIO DO CONFLITO
“Estar no meio disso é insano”
“Estou em Teerã, depois de um longo trabalho em várias cidades do Irã. Eu estava praticamente embarcando para Dubai com a seleção juvenil de handebol de praia do Irã. Participaríamos de uma competição que começaria hoje (ontem). Na sexta-feira, Israel atacou o país. Todo mundo saiu, os voos foram cancelados e o comércio fechou. Voltamos para o hotel e, depois de três dias, a seleção foi desfeita. Deslocaram-me para um hotel mais seguro, onde aguardo a posição da Embaixada do Brasil. Procuro não ler muito sobre o conflito.
Além de a internet ser ruim, isso apenas aumenta muito a ansiedade, porque não se pode fazer nada. Há muita dificuldade de comunicação aqui, porque o idioma é complicadíssimo. No Irã, não se usa moeda que não seja deles, nem cartão de crédito que usamos no Brasil. A embaixada fez um cadastro de todos os brasileiros que estão aqui em Teerã. Há preparativos para um plano de evacuação por meio da província iraniana do Azerbaijão, na fronteira como país de mesmo nome. São cerca de 10 horas de viagem.
Ontem (segunda-feira), derrubaram o prédio da emissora estatal de tevê, perto daqui. Ouvi muito barulho e fui para o lobby do hotel, o local mais seguro. Não sei se as pessoas estão saindo em massa de Teerã. Estar no meio dessa guerra é um troço insano, mas os iranianos nada têm com isso, querem viver, trabalhar. Depois da rodada de negociações com os EUA, as coisas tinham ficado muito positivas. Três dias antes da nova rodada, houve o ataque de Israel.”
Antônio Guerra Peixe, 68 anos, treinador da Seleção Brasileira de Handebol de Praia, natural de Petrópolis (RJ)
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“Fomentaram o ódio contra Israel”
“Moro em Jerusalém há 15 anos. A experiência com a guerra, em Tel Aviv, é mais intensa do que aqui. Não houve danos, como em Tel Aviv. Nós temos uma rotina de ir para o bunker de duas a três vezes por dia com as crianças. No início, as coisas pareciam estar muito mais intensas, com um envio de grande quantidade de mísseis. Houve um dia em que eu e minha esposa jantávamos na sacada e vimos quatro mísseis no céu. Não tínhamos recebido o alerta e decidimos descer para o bunker.
Em Tel Aviv, existe uma apreensão, no momento em que as sirenes começam a tocar. As pessoa ss ficam realmente com medo, pois pode ser que um míssil caia lá. Nem sempre o Domo de Ferro consegue interceptar esses mísseis vindo do Irã. Ao contrário do Irã, que tem uma estratégia de alimentar o medo dos israelenses e lançar bombas sobre áreas populosas, Israel foi muito inteligente, ao atacar a infraestrutura do Exército do Irã.
Vejo que a moral do povo israelense tem aumentado. Essa guerra com o Irã deveria ter acontecido há muito tempo. Eles colocam em risco o Estado de Israel e também foram responsáveis por passar fundos e criar estratégias com grupos terroristas, como o Hamas e o Hezbollah. Fomentaram o ódio contra Israel. Vemos isso como o último estágio, porque, se tverem a bomba atômica, com certeza jogarão aqui em Israel. Estamos na expectativa de essa guerra acabar o quanto antes.”
Jacob Kutschenko, 38 anos, empresário, mora em Jerusalém há 15 anos. Natural de Sâo Paulo
Por Gazeta do DF
Fonte Correio Braziliense
Foto: Menahem Kahana/AFP