Projeto capacita surdos para lidar com ouro e prata

Com aporte de R$ 119 mil, Alquimia ensina a produzir biojoias

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Voltado para pessoas surdas, com idade entre 16 e 35 anos, o projeto Alquimia permite que os aprendizes, em quatro meses, criem seus ateliês de joias e biojoias. Eles vão produzir e usar as ferramentas para esculpir em prata e ouro, além de manusear e furar sementes. Com fomento da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec) por meio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), no valor de R$ 119 mil, a ação gera oito empregos diretos e indiretos, e 16 vagas para inscrição.

Realizado pela designer de joias Suzana Rodrigues e pelo ourives Celso Grecov, o projeto é desenvolvido no galpão da Associação Recreativa Cultural Unidos do Cruzeiro (Aruc), de segunda a sexta-feira, com turmas de manhã e à tarde. As aulas tiveram início em 2 de agosto e seguem até novembro. Disponíveis de forma gratuita, as ferramentas enchem os olhos dos aprendizes, que contam com a mediação da intérprete de libras Jéssica Emilly.

“A secretaria trabalha fortemente para que ocorra acessibilidade de pessoas com deficiência nos projetos do FAC. Esse projeto reflete nosso interesse de gerar emprego e renda para esses profissionais”, destaca Bartolomeu Rodrigues, secretário de Cultura e Economia Criativa.

História de vidas

O professor Celso Grecov é ourives há 60 anos. Aos 13, com um mestre italiano, aprendeu a manusear as máquinas e materiais preciosos. Ele construiu a sua vida e criou seus filhos produzindo joias exclusivas sob encomenda. “Essa experiência em nada tem valor se eu não passar aos outros. Por isso, eu me alegro imensamente em poder ensinar aos surdos, que são pessoas altamente concentradas, mais focadas. A joalheria exige isso”, observa Celso.

“A secretaria trabalha fortemente para que ocorra acessibilidade de pessoas com deficiência nos projetos do FAC. Esse projeto reflete nosso interesse de gerar emprego e renda para esses profissionais”Bartolomeu Rodrigues, secretário de Cultura e Economia Criativa

A formação está dividida em três etapas. Na primeira, o aluno terá domínio das matérias-primas da biojoia e da ourivesaria. No intermediário, serão feitas as fusões dos metais e os professores vão ensiná-los a fazer ligas e formar peças. Ao final do curso, o formando terá domínio da arte e poderá vender suas peças em uma exposição, que representará a cerimônia de encerramento do curso.

Os inscritos no curso receberão ensinamentos sobre pedras, metais preciosos e materiais orgânicos, como cascas de coco, sementes de jarina, paxiubão, açaí, baru, jequitibá e outras espécies.

“O projeto Alquimia é um sonho planejado por nós há muitos anos. Agora, conseguimos os recursos do FAC e temos a intenção de capacitar pessoas surdas para esse ofício. O intuito é fazer bom uso do dinheiro público, concluir todas as etapas e formar o maior número de pessoas”, explica Suzana.

Suzana Rodrigues trabalha com biojoias desde 2002. Autodidata, na fazenda do pai, Sandoval Rodrigues, em Goiânia, produziu sua primeira peça, feita com sementes usadas para contar pontos de um jogo de cartas de baralho. Sandoval, seu grande pesquisador, buscava sementes do Cerrado e importava as amazônicas de ribeirinhos para a produção das biojoias.

A designer representou o Brasil em mostras internacionais como a Semana Internacional de Moda de Madri e de Lisboa, e expôs na “Destination: Brazil” do Museum of Modern Art (MoMA), em Nova Iorque. Na área social, Suzana encabeçou, durante cinco anos, um projeto de ensino de biojoias na ala feminina do Complexo Penitenciário da Papuda, onde profissionalizou mais de 300 detentas.

Saberes

Com motivações variadas, os aprendizes do projeto Alquimia demonstram destreza e esforço para desenvolver os ensinamentos da arte da ourivesaria, seja por interesse em gerenciar um negócio próprio, seja pelo gosto da arte.

Karine Mendes, estudante de Letras – Libras na Universidade de Brasília (UnB), sempre foi dada às artes. Para se expressar, desenha. O seu bisavô era ourives, e, seguindo seus passos, decidiu se inscrever no curso. “Inscrevi Karine no curso por pensar que o trabalho manual ajuda no desenvolvimento psíquico e pode servir como uma terapia. Ela também pode se sobressair com isso, gostar, completar-se, e revelar um talento que estava escondido”, diz Emília Mendes, mãe de Karine.

Rafaella Rogéria e Mairla Débora conheceram o projeto por meio das redes sociais. Mairla tem afeição por trabalhos artísticos manuais, como a costura e o bordado. A jovem pretende criar suas próprias joias em casa, e vendê-las.

“Montar o colar de sementes é divertido e eu tenho interesse em trabalhar com isso, montar meu próprio negócio”, expressa Rafaella. Esta é a primeira experiência artística da adolescente.

Inscrições

Apesar do início das aulas, as inscrições não foram completamente preenchidas. Para ocupar uma dessas vagas remanescentes basta ser alfabetizado, conhecedor de libras, e mandar nome, idade e endereço completo para o WhatsApp de Suzana Rodrigues: (61) 9 8159-9941. O projeto é direcionado, também, às pessoas de baixa renda.

*Com informações da Secretaria de Cultura e Economia Criativa 

Por Agência Brasília com informações de Sandra Barreto da Gazeta do DF

Foto: Marina Gadelha/Secec