A ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo, escolheu um poema para que a prima, Conceição Evaristo, declamasse durante a cerimônia de posse, realizada nesta sexta-feira (27/9), no Palácio do Planalto. Intitulado Vozes-Mulheres, fala sobre vozes silenciadas ao longo dos anos e que, atualmente, são ouvidas. A deputada estadual licenciada assume a vaga deixada por Silvio Almeida, que foi demitido do cargo após denúncias de assédio sexual.
“A voz de minha bisavó ecoou criança nos porões do navio. Ecoou lamentos de uma infância perdida. A voz de minha avó ecoou obediência aos brancos-donos de tudo. A voz de minha mãe ecoou baixinho revolta no fundo das cozinhas alheias debaixo das trouxas roupagens sujas dos brancos pelo caminho empoeirado rumo à favela”, inicia o texto.
“A minha voz ainda ecoa versos perplexos com rimas de sangue e fome. A voz de minha filha recolhe todas as nossas vozes recolhe em si as vozes mudas caladas engasgadas nas gargantas. A voz de minha filha recolhe em si a fala e o ato. O ontem — o hoje — o agora. Na voz de minha filha se fará ouvir a ressonância. O eco da vida-liberdade”, finaliza.
Conceição Evaristo contou ao Correio que a prima foi quem escolheu qual poema seria lido durante a posse. Emocionada, a poetisa acompanhou a cerimônia. Também estava presente Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial e uma das supostas vítimas de Silvio Almeida, que chorou ao abraçar a escritora.
A nova ministra não citou os casos relacionados ao seu antecessor em deu discurso, mas citou os desafios à frente da pasta, entre eles investir em políticas que atendam, sobretudo, as mulheres.
Presente na cerimônia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava acompanhado da primeira-dama, Janja da Silva, mas não discursou.
Por Mayara Souto do Correio Braziliense
Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República / Reprodução Correio Braziliense