Presença de mulheres em cursos da área de exatas ainda é pequena no DF

Em um espaço onde há prevalência masculina, a propagação de informação sobre os cursos da área é importante para um futuro mais igualitário entre homens e mulheres

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Apesar dos avanços, a presença feminina ainda é minoritária na área de exatas da instituição de ensino superior federal. Segundo dados obtidos nos anuários estatísticos da Universidade de Brasília (UnB), nos últimos cinco anos, a porcentagem de mulheres com matrículas ativas é de 12,84% no curso de computação e 31,1%, em engenharia civil. Esforços para incentivar e apoiar esse grupo, como a criação de projetos de extensão, têm sido importantes para superar esse desafio.

A falta de uma mulher influente na profissão reflete na figura representativa de Nathália Cerqueira, 22, aluna do sétimo semestre de engenharia civil. “Minha grande inspiração na área é um homem, meu pai. Sempre fomos muito apegados, desde criança, então eu me sentava ali com ele e fazíamos aquilo juntos, com o tempo, foi surgindo a vontade de fazer a mesma coisa”, compartilha. “Eu poderia citar alguma professora minha, se eu tivesse muitas opções, mas tive apenas uma em todo o curso”, ressalta.

Rose May, membro do grupo de pesquisa GECOM (Gênero, comunicação e socialidades), explica que isso se deve ao fato do machismo estrutural presente na sociedade. “O patriarcado nos coloca uma espécie de carimbo, nasceu mulher? Então o seu destino é cuidar. E isso ainda é reforçado, diariamente, pelos estereótipos de gênero que associam homens às áreas de exatas e de engenharias”, expõe. 

Além disso, a estudiosa esclarece que essa situação precisa mudar e que deve ser mais divulgada. “É preciso implementar e divulgar programas de mentoria com mulheres que atuam nas áreas de exatas para que possam replicar os seus exemplos para essas estudantes. Afinal, aquilo que não é divulgado, também não é sabido”, pensa. 

Incentivo

Com a intenção de promover esse senso de pertencimento ao ambiente acadêmico, as professoras do Departamento de Ciência da Computação, Maristela Holanda, Aletéia Araújo e Maria Emília Walter se juntaram em 2010 para criar o projeto de extensão meninas.comp, apoiado pela FAP-DF. 

A ideia principal surgiu da oferta de oficinas motivacionais às meninas estudantes de ensino fundamental e médio de escolas públicas, a fim de que elas possam ter a oportunidade de experimentar atividades que sejam inerentes à atuação profissional, apresentando o curso como possibilidade. 

Para aquelas que já estão cursando, há um acolhimento que começa desde a calourada. “Posso dizer que a maioria das alunas já passaram pelo projeto em algum momento ao longo do curso, não simultaneamente, porque existem fases, algumas estão com estágios, outras no TCC”, afirma Maristela.

Luana Cruz, 23, é um desses casos citados pela professora. Conseguiu conciliar a entrada no projeto somente no oitavo semestre do curso de ciências da computação, e acredita que as coisas teriam sido diferentes se tivesse tido esse acolhimento antes. “Me senti muito deslocada no começo, é realmente desafiador entrar em uma sala de aula e perceber que a maioria das pessoas são homens”, declara. “Hoje, aqui dentro, percebo como esse apoio faz toda a diferença para a nossa confiança de continuar, mesmo com a discriminação”, conclui.

Por outro lado, Letícia Souza, 18, entrou no meninas.comp ainda no primeiro semestre de licenciatura em computação, isso porque iniciou no ramo da ciência cedo, com 12 anos, quando entrou para a equipe de robótica do Sesi Taguatinga, lugar onde permaneceu por mais quatro anos.

Durante esse tempo, percebeu as dificuldades que enfrentaria na profissão, ao observar como as tarefas eram divididas. “Os meninos sempre eram os programadores, que construíam os robôs e eu percebia que a gente ficava muito com a pesquisa, para desenvolver a escrita do projeto. O único ano que eu tive que programar foi quando já não tinha mais meninos voluntários suficientes para essa função”, relata.

Em se tratando das engenharias, o projeto Meninas Velozes é uma ação da Faculdade de Tecnologia da UnB, em parceria com escolas do ensino médio. O projeto tem o intuito de equidade de gênero nas áreas de engenharias mecânica e automotiva. A coordenadora do projeto, Maura Milfont, diz que a principal motivação ao se criar a extensão se deve à pouca representação feminina nos cursos de engenharia. “É um fato que temos pouca representação feminina nas áreas de ciências tecnológicas, engenharia e matemática. Então, a ideia era atrair meninas que estão envolvidas nesse mundo, mas especialmente com todos os tipos de engenharia”, exemplifica. 

Laura Sousa, 23, é monitora do programa e está inserida na tecnologia desde o ensino médio. Ao entrar na faculdade, ela queria refazer vivências, agora com mais mulheres em seu caminho. “Eu precisava conviver com mais mulheres e contribuir para que mais meninas não passassem por situações de preconceito como eu passei, minha principal motivação foi quebrar esse ciclo de pouca representatividade e machismo”, aponta a estudante de engenharia florestal.

Sua satisfação está em acompanhar o desenvolvimento das estudantes de ensino médio e fundamental que estão dentro do programa e contemplar os frutos disso. “Nesse contato direto, pude percebê-las se abrindo para novas oportunidades, debatendo, não tendo medo de errar, se sentindo confortáveis na universidade e percebendo que elas podem e devem ocupar os locais que almejam. Me sinto grata por estarmos formando meninas e mulheres pra vida e seus desafios”, considera.

*Estagiárias sob a supervisão de Patrick Selvatti

Por Fernanda Cavalcante e Luiza Marinho do Correio Braziliense

Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press / Reprodução Correio Braziliense