Qual a probabilidade de reinfecção pela dengue? Especialistas explicam

A arbovirose causadora da epidemia no Distrito Federal tem gerado dúvidas em pacientes. O Correio conversou com especialistas sobre pegar a dengue novamente e os sinais de alarme para esses casos, onde a forma grave se manifesta com mais facilidade

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O último Boletim Epidemiológico da Dengue, lançado pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal, mostra que a capital já registrou mais de 180.900 casos prováveis da enfermidade apenas em 2024. Para além da preocupação com o alto índice de pessoas infectadas, surgem receios acerca dos vários cenários que os pacientes podem vivenciar por causa da doença — a reinfecção, por exemplo, é um tema que tem gerado debates.

O Correio conversou com pacientes e especialistas para tirar dúvidas acerca das probabilidades de reinfecção.

Na tenda de acolhimento do Sol Nascente, a reportagem encontrou a coordenadora de vendas Gleice Soares, 39 anos, moradora do Sol Nascente, que havia ido ao local em busca de atendimento para o filho Deniel Soares, de 9 anos.

A mãe contou que o menino esteve na tenda há menos de um mês para se tratar da doença infecciosa, mas que, espantosamente, voltou a apresentar sintomas semelhantes aos da dengue nesta semana. De acordo com a mãe, na última quarta, Deniel testou positivo para a dengue, mais uma vez. Mas, será possível adquirir a doença novamente em um período tão curto de tempo?

Os infectologistas André Bon, do Hospital Brasília Águas Claras, da rede Dasa no DF, e Werciley Júnior, coordenador de Infectologia do Hospital Santa Lúcia, explicaram que é improvável que um paciente contraia dengue novamente em um período menor que um ano. O que acontece, na verdade, é que por o paciente ter tido o vírus em seu corpo recentemente, ao apresentar sintomas semelhantes ao da dengue e fazer o teste, é possível se deparar com o positivo.

“Quando o paciente tem dengue, ele tem uma proteção de um subtipo para os outros por um período de oito a 30 meses. Alguns estudos falam, inclusive, que pode haver proteção por até dois anos. Um tipo de dengue protege o paciente dos outros tipos”, ensina Júnior. Depois do período de proteção, quando a reinfecção acontece, de fato, é preciso ficar alerta.

Segundo coordenador de infectologia do Hospital Santa Lúcia, a segunda infecção por dengue é o principal fator de risco para desenvolvimento de quadros graves. “Habitualmente, a dengue grave acontece na segunda vez porque o paciente contrai um novo sorotipo e isso faz com que aconteça um processo inflamatório intenso”, destacou.

O especialista ressalta, porém, que não é possível contrair o mesmo sorotipo duas vezes. “O sorotipo gera no paciente proteção para o resto da vida. Então, é possível ter dengue apenas quatro vezes, cada vez com um dos quatro sorotipos existentes”, destacou Júnior.

Sinal de alerta na reinfecção

Ainda na tenda de acolhimento do Sol Nascente, o Correio encontrou Denise Priscila de Oliveira, 39, moradora do Sol Nascente, e sua sogra, Lindalva de Jesus, 58. A mãe aguardava enquanto os três filhos (Emilly Victória, 9, Aline Priscila, 7, e Arthur Pietro, 3) recebiam atendimento. As crianças começaram a apresentar os sintomas da dengue no mesmo dia, na sexta-feira da semana passada.

Inicialmente, Denise não suspeitou da enfermidade, os filhos são asmáticos e ela imaginou que pudesse ser mais uma crise da doença respiratória. Contudo, na madrugada de quarta para quinta, as crianças apresentaram sangramento pelo nariz, o que preocupou a mãe.

“Graças a Deus, nos receberam rápido na tenda, agora eles estão tomando soro e depois os dois mais novos vão ser transferidos para o Hospital Regional de Ceilândia”, contou Denise, enquanto amamentava o filho de um mês que, felizmente, não apresentou sintomas da doença.

Sobre o sangramento, André Bon destacou que, tanto em adulto quanto em crianças, é um sinal de alerta. Sangramentos de mucosa, seja nasal ou gengival, em pessoas que não possuem normalmente esse tipo de manifestação, são sinais de alarme e o paciente deve ser manejado como Dengue tipo C, quadro em que o paciente deve ser internado imediatamente e inicia-se reposição volêmica (introdução de líquidos por via intravenosa).

Os médicos recomendam que os pacientes bebam bastante líquido, em média de três a cinco litros por dia, seja água, isotônico, sucos ou chás.

Por Letícia Guedes do Correio Braziliense

Foto: AFP / Reprodução Correio Braziliense