Os tratamentos e a melhora na qualidade de vida de pacientes com paralisia cerebral, ainda na infância, foi tema do CB.Saúde — parceria entre o Correio e a TV Brasília —, de ontem. À jornalista Carmen Souza, o neurocirurgião funcional do Hospital Anchieta Antônio Oliveira falou sobre a importância de se diagnosticar problemas neurológicos ainda no início, para dar aos portadores de deficiência mais autonomia e qualidade de vida, tanto a eles quanto aos seus familiares.

Qual a função e como funciona a especialidade do neurocirurgião funcional?

A ideia da neurocirurgia funcional é oferecer opções de tratamento cirúrgico para melhorar a qualidade de vida, trazer funcionalidade para esses pacientes é explicar às pessoas que esse “funcional” é relacionado a transtornos funcionais. Não é apenas uma doença e sim um grupo de doenças neurológicas. Doenças que não são malignas, que não vão levar o paciente a óbito, mas que elimina a qualidade de vida dessas pessoas, gerando sequelas seja em pacientes adultos (AVC, doenças crônicas como doença de Parkinson, epilepsia) ou nas crianças, onde o mais conhecido é paralisia cerebral. Enfermidades que geram alterações cognitivas de fala, motora e, em especial, alterações de movimento que dificulta tanto a independência desses pacientes quanto o trabalho exercido pelos responsáveis presentes.

No caso da paralisia, é comum a cirurgia funcional para crianças com doenças neurológicas?

Os pacientes com paralisia cerebral, historicamente, morriam mais cedo e tinham dificuldade no diagnóstico, o que ocasionava complicações em oferecer tratamentos. De um ponto de vista profissional, temos uma longa estrada para caminhar, que vem crescendo cada vez mais, e fazendo essas cirurgias funcionais.

Existe o aumento de sub notificação de casos de paralisia cerebral?

Está sendo documentado em literatura e artigos como os pacientes são negligenciados e não são avaliados, dentro de um cenário governamental, de indústria e até mesmo dentro da própria equipe de saúde. Onde esses profissionais costumam dar menos atenção aos casos pela ideia fechada de que “é aquilo (paralisia cerebral) e não tem o que fazer. Conviva com isso”. É esse tipo de comportamento e mentalidade que queremos mudar.

Existem graus de comprometimento ocasionados pela paralisia cerebral?

Existem classificações para dizer o quanto esse paciente está disfuncional ou prejudicado. Existem pessoas com paralisia cerebral que são quase independentes, que trabalham, estudam, fazem concurso e que se desenvolvem. Além de pacientes graves, que são acamados. Entretanto, é possível oferecer tratamentos medicamentosos, com neurologista e neuropediatra (menos invasivos) e até tratamentos mais complexos para os mais debilitados.

O prognóstico, ocorrendo mais cedo, é melhor para o tratamento em crianças?

Estudos falam que o diagnóstico seja em adulto ou criança, quanto mais precoce melhor para a evolução, pois assim alcança tratamentos mais específicos.

Intervenções específicas podem aumentar a qualidade de vida dos pacientes?

O paciente que tem uma sequela, uma dependência, com uma doença neurológica grave derruba uma família. Ela precisa ter condição de ter um cuidador e uma vida social. Então, certos procedimentos avaliados dentro da especificação do paciente melhora a qualidade de vida dele e de todos ao redor. Ter uma evidência científica funciona e ajuda todo mundo em volta.

Quando se realiza a cirurgia funcional, a melhora permite o paciente a retornar para casa?

A realização de cirurgias assim torna possível a volta para casa, conseguir andar, levar uma colher de comida à boca, não depender de todo mundo, isso faz uma diferença enorme. É uma maneira de viver com qualidade e trazer tratamentos que influenciam essas operações, o deixando mais independente.

O avanço tecnológico e médico, que vem crescendo nos últimos anos, está aumentando a expectativa de vida para crianças que possuem doenças neurológicas?

O que leva uma criança a falecer mais cedo, a partir do diagnóstico, são doenças que vem com ele, como a de pele, lesão óssea e dependência. Isso faz provoca a morte precocemente. Quando se trata e deixa criança independente, com o tempo, são fornecidas terapias melhores.

*Estagiária sob a supervisão de Suzano Almeida 

Por Camila Coimbra do Correio Braziliense

Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press / Reprodução Correio Braziliense