Moradores do DF falam sobre a alegria de ajudar o próximo doando sangue

O gesto de contribuir com o Hemocentro, de tempos em tempos, é, para muitos, uma atitude humanitária e que vai além de simplesmente aumentar os estoques da instituição. O Correio ouviu relatos de pessoas que prestam essa ajuda

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Por Arthur de Souza, Camila Coimbra* e Fernanda Cavalcante* — O ato de doar sangue tem se tornado um hábito humanitário para várias pessoas no Distrito Federal. Algumas delas disseram ao Correio que, sem receber nada em troca, fora a satisfação de saber que ajudaram seus semelhantes, elas costumam realizar o gesto periodicamente. Fazem isso independentemente de atenderem a convocações em situações emergenciais, como catástrofes ou o desabastecimento da rede pública de saúde. Elas integram um grupo consciente da importância de sua atitude e que profissionais e autoridades da área de saúde locais gostariam de ver cada vez maior.

Denis Amorim, 37 anos, pastor da Assembleia de Deus de Santa Maria, conta que começou a doar sangue em 2008, junto a outros membros de sua igreja. Atualmente o grupo não atua mais em conjunto, mas ele manteve o ato, que repete, ao menos, quatro vezes por ano. “O que me incentiva é a minha crença. Acredito que todos devemos fazer o bem, de todas as maneiras. Ajudar a salvar vidas com a doação de sangue é só uma delas”, destaca.

Luísa Beatriz, 20, vai ao encontro do que pensa o pastor, com base na fé religiosa. “Minha vó tinha ficado muito doente em 2021, precisava de muito sangue e não tinha. Prometi para Deus que, se Ele salvasse a vida dela, passaria a doar sangue”, revela. Desde então, a jovem contribui com o estoque da Fundação Hemocentro de Brasília (FHB). “É um tempo pequeno que você tira do seu dia, só uma horinha, mas que ajuda muitas pessoas”, incentiva.

Solidariedade

“Ao estender o braço para doar sangue, oferecemos um recurso essencial para procedimentos médicos cruciais, como cirurgias e tratamentos de doenças graves”, reforça Lucilene Florêncio. “A singularidade desse gesto reside na capacidade de uma única doação salvar até três vidas, representando uma ponte entre a esperança e a recuperação para aqueles em momentos de necessidade”, acrescenta.

A atitude a que a titular da pasta de Saúde quer persuadir a comunidade, segundo ela, transcende barreiras sociais, conectando pessoas de diversas origens em um propósito comum de solidariedade. “Além de beneficiar os receptores, os doadores também colhem benefícios , como a redução do risco de doenças cardiovasculares e uma sensação de contribuição significativa para a comunidade”, pontua. “Ao reconhecer a importância desse ato altruístico, podemos todos desempenhar um papel crucial na construção de uma sociedade mais saudável e unida”, avalia.

Para a moradora do Riacho Fundo I Rafaela Pereira, 19, uma de suas metas para 2024 é cooperar com os estoques de sangue da capital, especialmente depois que tomou conhecimento da necessidade do órgão. “Saber que o Hemocentro estava com estoque baixo de sangue me incentivou a doar”, ressalta.

Alexandre Augusto, 26, é estudante da UnB e desde 2016 se voluntaria a que extraiam dele a substância biológica imprescindível em muitos casos hospitalares. O jovem afirma que começou nisso de forma despretensiosa, quando um colega de classe fez a proposta depois da aula. “Ele me convidou, não tinha nada pra fazer e fui”, brinca o morador de Sobradinho. Essa foi uma das quatro doações (de sangue) que fez naquele ano, costume que mantém até hoje, como garante.

Necessidade constante

Dados da FHB indicam que atualmente os estoques dos tipos sanguíneos “O” positivo e “B” negativo acenderam o sinal amarelo por estarem em níveis baixos. Gerente de Captação, Registro e Orientação de Doadores da FHB, Kelly Barbi ressalta que todos os tipos de sangue são bem-vindos ao Hemocentro, especialmente porque a necessidade é permanente. “Temos uma meta de 180 doações por dia para mantermos um estoque seguro, capaz de atender toda a rede pública de saúde do DF”, assegura. “No entanto, nossa demanda é maior pelo ‘O’ positivo e todos os tipos negativos, sobretudo o ‘O’ negativo, que é o doador universal”, acrescenta.

Segundo Kelly, a fundação enfrenta alguns obstáculos para buscar seu propósito. “Certos períodos sazonais afetam e reduzem o número de doadores, como em épocas de férias, feriados prolongados e períodos de muito calor ou muito frio. Preocupações relacionadas ao material descartável e até medo da agulha também são comuns”, comenta. “Porém, nosso principal desafio é inserir a doação regular de sangue na agenda das pessoas, como um compromisso cidadão, uma responsabilidade social”, diz.

Além disso, a gerente da fundação afirma que as informações falsas também atrapalham. “Ela (a doação) é rodeada por mitos, como a ideia de que ‘afina’ o sangue. Outro equívoco é que é preciso estar em jejum para doar, quando, na verdade, o candidato deve estar bem alimentado, somente evitando alimentos gordurosos, como frituras e derivados do leite”, explica. “Existe também o mito de que quem fez tatuagem ou passou por outros procedimentos estéticos está permanentemente inapto para a doação”, desmente Kelly.

Ela acrescenta que o Hemocentro oferece um canal no WhatsApp — (61) 99136-2495 — para tirar dúvidas sobre doação. E a gerente médica da Agência Transfusional do Grupo GSH, a hematologista Michaela Lobo ressalta que 450 ml de sangue podem salvar a vida de até quatro pessoas (leia mais em Quatro perguntas para).

Quem doa para quem

A positivo: doa para A+ e AB+, e pode receber dos tipos A+, A-, O+ e O-
A negativo: doa para A+, A-, AB+ e AB-, e pode receber dos tipos A- e O-

B positivo: doa para B + e AB+, e pode receber dos tipos B+, B-, O+ e O-
B negativo: doa para B+, B-, AB+ e AB-, e pode receber dos tipos B- e O-

AB negativo: doa para AB+ e AB-, e pode receber dos tipos AB-, A-, B- e O-
AB positivo: é conhecido como receptor universal, porque pode receber transfusões de todos os tipos sanguíneos, mas só pode doar para quem é AB+

O positivo: doa para A, B, O e AB positivos, e recebe do O positivo ou negativo
O negativo: é o doador universal. Ele pode ser transfundido em pessoas de todos os tipos sanguíneos, mas só pode receber doação de outro O-

Fonte: FHB

Condições para doar

» Ter entre 16 e 69 anos de idade

» Pesar mais de 51 quilos e ter IMC maior ou igual a 18,5;

» Dormir pelo menos seis horas, com qualidade, na noite anterior à doação;

» Não ingerir bebida alcoólica nas 12 horas anteriores à doação;

» Não fumar duas horas antes da doação;

» Apresentar documento de identificação oficial com foto.

Covid

» Quem teve contato com pessoa diagnosticada ou com suspeita de covid-19 fica impedido de doar sangue por sete dias após o último contato com a pessoa;

» Candidatos com febre ou sintomas respiratórios (tosse, irritação ou dor na garganta) devem aguardar 15 dias após o desaparecimento completo desses sinais, assim como quem está em isolamento por causa desses sintomas;

» Quem teve diagnóstico para covid-19 e apresentou sintomas deve aguardar 10 dias após o fim desses sinais para se candidatar à doação de sangue;

» Se assintomático, o prazo de 10 dias é contado da data de coleta do exame.

Fonte: FHB

Agendamento

» O agendamento individual pode ser feito pelo site agenda.df.gov.br ou pelos telefones: 160 (opção 2) ou 0800 644 0160. O horário do atendimento telefônico é de segunda a sexta, das 7h às 21h, e aos sábados, domingos e feriados, das 8h às 18h.

» O agendamento de grupos para doação de sangue deve ser feito pelos telefones (61) 3327-4413 ou (61) 3327-4447. Nesses números, o atendimento telefônico é de segunda a sábado (exceto feriados), das 7h às 18h.

Fonte: FHB

Quatro perguntas para Michaela Lobo

Hematologista e gerente médica da Agência Transfusional do Grupo GSH no Hospital Santa Lúcia

Qual é a importância de ser um doador de sangue?

Os bancos de sangue fornecem componentes do sangue para pacientes internados com doenças graves ou com necessidade crônica de transfusão. Em muitas situações a transfusão é imprescindível para a vida, sem possibilidade de substitutos, como por exemplo em pacientes com acidentes de trânsito, submetidos a grandes cirurgias ou em tratamento quimioterápico.

Quais são os benefícios para quem se torna um doador de sangue?

Dentre os principais está a possibilidade de salvar vidas com um ato simples. A doação deve ser vista como benefício não só para nós como indivíduos, mas para nós como sociedade. Além disso, os doadores de sangue têm garantido por lei um dia de folga, observados cada regime de trabalho.

Qual é sua avaliação sobre o cenário de doadores no DF?

Ainda temos muito que conquistar no cenário de doadores do DF, principalmente no quesito de doadores regulares, ou seja, aqueles que sempre vão doar. No período de festas de final de ano, carnaval e feriados no geral, os bancos de sangue do DF sofrem com estoques baixos devido ao número baixo de doadores regulares.

O que pode ser feito para aumentar a quantidade de doadores no DF?

Estratégias de incentivo à doação são essenciais para o fomento e desmistificação do hábito de doar sangue.

*Estagiárias sob a supervisão de Manuel Martínez

Por Correio Braziliense 

Foto: Kayo Magalhães/CB/D.A Press / Reprodução Correio Braziliense