Cambuís florescem mais cedo e o amarelo toma conta da paisagem do DF

As flores chegaram com 15 dias de antecedência, colorindo todo o DF. De acordo com especialista, essa aceleração da natureza pode ser explicada pela influência do El Niño, que elevou as temperaturas durante o ano

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Popularmente conhecida como jabuticabinha, o cambuí, com suas flores amarelas, colore a paisagem de Brasília ao final de 2023. Apesar de a planta ser nativa do Cerrado, ela não cresce naturalmente no Distrito Federal, apenas nos demais estados abarcados pelo bioma. Por isso, sua perpetuação na capital exige plantio e cultivo cuidadosos. A floração chegou com aproximadamente 15 dias de antecipação e pode ser vista em todo o DF, inclusive próxima a cartões postais da capital, como a Torre de TV e o Parque da Cidade Dona Sarah Kubitschek.

A espécie apresenta raízes grandes e tem um crescimento acelerado. Por isso, o ideal é que ela seja cultivada e plantada em parques ou grandes áreas verdes, longe de locais que tenham rede elétrica ou águas pluviais. A madeira rígida costuma ser utilizada em cabos de martelos e em instrumentos agrícolas. Dos frutos maduros, tradicionalmente macerados, são produzidos licores e garrafadas, principalmente no Nordeste e Sudeste brasileiros. 

O cambuí se assemelha a outra flor característica do DF, os ipês, pois além do amarelo vívido, ele costuma ficar completamente sem folhas nos períodos de seca. Outra similaridade é explicitada pelo próprio nome da planta, que significa árvore de galho fino na língua Tupi-Guarani.

A beleza da flor de cambuí chama a atenção de quem passa pela entrequadra 109/110 da Asa Sul. Alexandre Cordeiro, de 36 anos, foi um dos que desacelerou os passos e sacou uma câmera para registrar a beleza a céu aberto. “Gosto de fotografia e já tinha reparado nos cambuís espalhados pela cidade. Passando pela Asa Sul, vi aqueles, achei legais para serem fotografados e parei lá”, conta.

O bombeiro passou a praticar sua habilidade com lentes para registrar aquilo que percebe como interessante no dia a dia da cidade. Agora, Alexandre tem experimentado as câmeras analógicas. “Já tinha reparado há uns dias e fiquei com vontade de fotografar. Quando estava passando, coincidiu de ver alguns bem bonitos e estar com tempo para parar”, relata.

Dentre as espécies registradas pelo morador da Asa Sul, estão os tradicionais ipês e sibipirunas, que assim como cambuí, apresentam forte coloração amarela. “Gosto do contraste das cores, principalmente do amarelo com o céu azul”, revela Alexandre.

Segundo Daniel Costa de Carvalho, professor do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade de Brasília (UnB), a floração dos cambuís ocorre na primavera e vai até meados do verão. Neste ano, o processo natural se antecipou em 15 dias.

As fases de queda e de nascimento das folhas podem ser adiantadas ou atrasadas conforme o clima. Isso pôde ser observado neste ano em decorrência do El Niño, fenômeno climático cíclico em que há o aquecimento no ar atmosférico, responsável pelas ondas de calor recorrentes em 2023.

Mas a floração fora de época dos cambuís não significa que a planta tenha algum prejuízo grave. “Pode estar ocorrendo uma mudança, talvez nem significativa, nesse período fenológico da espécie. Quanto à avarias, tombamento e quebra de árvores, não vejo nenhum problema mais expressivo, não está aparecendo nenhum sintoma nas árvores que eu tenha percebido”, completa.

Os cambuís não são diferentes da maioria das espécies semideciduais, ou seja, em determinada época do ano — principalmente na estiagem — elas perdem quase 70% das folhas da copa. Além disso, elas também possuem propriedades medicinais anti-inflamatórias e sua madeira avermelhada é bastante visada pela serraria.

Para crescer, a dispersão das sementes do cambuí é feita naturalmente por meio das correntes de água da chuva, o que promove uma maior probabilidade de germinação durante o verão. Uma vez germinada, ela precisa estar em um local com condições adequadas, com acesso à sombra, pois não é capaz de se perpetuar em ambientes de exposição solar constante. 

Atualmente, o viveiro da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) comporta 150 mil mudas que logo serão espalhadas por todas as regiões administrativas. Segundo o diretor da Novacap, Raimundo Silva, a intenção é disseminar a beleza que a árvore proporciona para outros cantos do Distrito Federal.

Por João Carlos Silva do Correio Braziliense

Foto: Ed Alves/CB/DA.Press / Reprodução Correio Braziliense