Se enganam aqueles que pensam que o lixo que jogamos fora não tem importância alguma após o seu descarte. Um levantamento feito pela Associação Brasileira de Recuperação Energética de Resíduos (ABREN), mostrou que 1,8 milhões de casas do DF e do Entorno podem ter a energia elétrica disponibilizada graças aos materiais descartáveis, que podem ser aproveitados graças a equipamentos modernos.
Para a Associação, os resíduos de lixo que ficam aglomerados no Aterro Sanitário de Brasília (ASB), ou em lixões irregulares podem ter um outro destino. O lixo pode ser incinerado, e a combustão dos materiais podem produzir uma energia termelétrica, suficiente para o consumo dos brasilienses e dos moradores do Entorno. O método, de acordo com os especialistas, é semelhante ao que é feito a partir da produção energética com biomassa, produzida através do bagaço da cana de açúcar, e que atualmente corresponde a 10% de toda a produção nacional.
Segundo os responsáveis pelo estudo, publicado recentemente para a imprensa, as regiões do Distrito Federal e do Entorno podem receber sete usinas de recuperação energética (URE), espaços onde após incinerar os resíduos descartados pela população,é possível produzir uma grande quantidade energia termelétrica, de forma ecológica e altamente produtiva.
A iniciativa futurista envolveria investimentos superiores a R$ 4,9 bilhões, podendo gerar 8,3 mil postos de trabalho para o Distrito Federal. Os especialistas estimam que em 40 anos, mais de R$ 7 bilhões consigam ser arrecadados com o aproveitamento energético dos detritos brasilienses.
Em entrevista ao Jornal de Brasília, o presidente da ABREN, Yuri Schmitke, conta que a recuperação energética, obtida através da incineração do lixo, já é aproveitada de forma eficiente em outros países do mundo. “Esse tipo de empreendimento, que oferece diversos ambientais, também é considerado mundialmente como a solução mais adequada para resolver o problema dos resíduos sólidos urbanos”, afirma.
De acordo com Schmitke, a recuperação energética do lixo já é realizada em outros países há mais de quarenta anos, mas ainda não foi introduzida em nenhuma parte do Brasil, tornando o país “bastante atrasado” nas tratativas do assunto.
“Desde a década de 1980 que isso se tornou completamente seguro. Você tem na União Européia 520 usinas, e no mundo todo são 2.500. Hoje, não se enterra mais lixo, a gente separa o reciclável, separar o fator orgânico, e a maioria das substâncias, 50 a 60% vão para a incineração”, comenta o presidente da ABREN.
Benefícios para os brasilienses
Os benefícios da introdução do novo método não ficam apenas dentro das barreiras econômicas, colaborando também com o meio ambiente e com a saúde da população. De acordo com a ABREN, as sete usinas de recuperação energética podem evitar a emissão de 112 milhões de toneladas de CO2, além de conseguir recuperar 1,9 milhão de toneladas de metais ferrosos ou não ferrosos.
O presidente da ABREN explica que essas usinas podem ser construídas a partir de um consórcio entre o Distrito Federal e as cidades que constituem o Entorno. Com a inauguração das unidades, a economia de materiais recicláveis seria impulsionada, além disso, haveria uma otimização e facilitação do trabalho dos coletores de lixo. “Tem pessoas que vão trabalhar na construção da usina, e pessoas que vão trabalhar no funcionamento da usina. Só uma usina emprega entre 60 a 70 pessoas.”, planeja Yuri.
Outro fator importante seria a economia de R$ 2,5 milhões relacionados à saúde pública, já que os moradores estariam livres de doenças que são causadas pelo contato com condições insalubres de lixões.
O presidente da ABREN lembra das grandes iquantidades de chorume que são armazenados no Aterro Sanitário de Brasília (ASB). Em janeiro de 2020, o Serviço de Limpeza Urbana (SLU) chegou a decretar um estado de emergência, afirmando que o sistema de tratamento tinha entrado em um “colapso”.
“Isso reduz os gastos de saúde pública consideravelmente na gestão de resíduos
O gasto é elevado porque o resíduo, quando não é tratado, acaba prejudicando a saúde pública. O aterro de Samambaia já alagou de chorume, e isso foi uma das piores contaminações do Brasil”, argumenta Yuri Schmitke.
A solução para esse grande desafio pode estar vindo em um futuro próximo, já que uma unidade de recuperação energética deve ser construída próxima do Aterro Sanitário. Além disso, Yuri revela que as usinas de biogases estarão situadas em Ceilândia, Sobradinho e na Asa Sul.
Novos empregos e energia limpa
Segundo Filipe Tôrres, doutorando em engenharia de sistemas eletrônicos e automação na Universidade de Brasília (UnB), os benefícios que podem ser obtidos com a adoção do novo método o tornam atraente para investimentos em energia limpa e renovável.
“Com certeza, traria grandes benefícios ambientais com relação ao lixo e as emissões em CO2, para a população com empregos, qualidade de vida, condições de trabalho e saúde e de economia para os governos e investidores.”, afirma Tôrres.
O doutorando conta que os benefícios para a administração pública seria, além de se obter um retorno financeiro com a injeção de capital, a possibilidade de se gerar novos empregos no DF e no Entorno. “É um empreendimento que vai ter um payback razoável. É um investimento alto, porém vai gerar bastante emprego e energia totalmente limpa.”, observa o especialista.
Por Redação do Jornal de Brasília com informações de Sandra Barreto
Foto: Dênio Simões/Agência Brasília