Com a proximidade do ano eleitoral de 2022, ganham força as especulações sobre possíveis candidatos e eventuais vencedores da disputa. No último pleito geral, em 2018, partidos de centro-direita e direita conquistaram a maior parte dos eleitores do Distrito Federal, principalmente nos cargos para o Executivo. Na disputa pelas cadeiras do Poder Legislativo, a maioria dos ganhadores fazia parte de siglas de centro e esquerda.
Para o próximo ano, analistas avaliam que haverá mudanças no perfil do voto dos brasilienses, principalmente em virtude das consequências socioeconômicas provocadas pela pandemia da covid-19. Eles observam, também, a tendência de que a população de regiões administrativas com rendas per capita menores será decisiva para o resultado — ao contrário de três anos atrás, quando os escolhidos para o Executivo federal e local foram, praticamente, unanimidade nas cidades do DF.
Em 2018, o presidente Jair Bolsonaro, até então filiado ao Partido Social Liberal (PSL), levou 58,37% dos votos registrados na capital federal no primeiro turno. Ele foi o candidato mais votado em todas as 19 zonas eleitorais do DF, sendo a de Taguatinga (Zona 11) responsável pela maior parte. Ciro Gomes (PDT) apareceu em segundo lugar em 18, à exceção da Zona 6, em Planaltina, onde Fernando Haddad (PT) ocupou a posição abaixo de Bolsonaro.
Em relação às eleições para a chefia do Executivo local, Ibaneis Rocha (MDB) recebeu 41,97% dos votos no primeiro turno, sendo que os eleitores da Zona 21, no Recanto das Emas, garantiram 52,34% dos 634 mil recebidos pelo emedebista. O atual chefe do Palácio do Buriti venceu em 17 zonas eleitorais. Rodrigo Rollemberg (PSB), que concorria à reeleição, ficou em primeiro lugar só nas de número 1 e 14 — nas asas Sul e Norte, respectivamente.
O cientista político e advogado Nauê Bernardo de Azevedo avalia que as regiões fora da área central de Brasília serão decisivas para o resultado das próximas eleições, pois, de maneira geral, não há uma tendência política bem-definida nelas. No Plano Piloto, por outro lado, predominam correntes de pensamento mais progressistas, segundo ele. “(Terão peso) principalmente Ceilândia e Planaltina, que são regiões bem povoadas. Conquistar o público dessas cidades é essencial para uma vitória, e é preciso saber o que cada uma quer, quais são as reivindicações delas”, comenta.
Nauê Bernardo acrescenta, porém, que é cedo para dizer como o eleitorado vai se comportar em 2022. “Com certeza, teremos mudanças, mas nada está definido. Teremos novos eleitores no jogo. Mas campanhas voltadas para serviços públicos devem fazer a diferença.”
Além disso, o cientista político considera que a desigualdade social presente entre regiões próximas faz com que os eleitores desenvolvam necessidades específicas: “Temos a ilha do Plano Piloto, que é uma área muito rica, cercada por áreas mais pobres. Então, há muitas realidades condensadas em um espaço relativamente pequeno de cidades, e isso constrói a configuração política de Brasília”.
Desigualdade
Ao analisar os dados dos votos, é necessário lembrar que a classificação das zonas eleitorais não leva em conta, necessariamente, a área geográfica das regiões administrativas. Cinco dessas zonas incluem mais de uma cidade ou bairro — alguns deles com características sociais e econômicas muito discrepantes. As asas Norte e Sul, por exemplo, não fazem parte de uma mesma.
E a que inclui o Lago Sul, bairro com a maior renda per capita da capital do país (R$ 8.317,20, segundo o Atlas do Distrito Federal de 2020, da Companhia de Planejamento do DF — Codeplan), engloba a cidade de São Sebastião (R$ 894,31). O cenário se assemelha ao da Zona 10, que conta com eleitores do Park Way (R$ 5.768,63) e da Candangolândia (R$ 1.405,73).
Em 2018, a segunda deputada federal mais votada do DF, Erika Kokay (PT), acumulou a maior quantidade de votos nas mesmas zonas eleitorais que o colega de partido Fernando Haddad: as Asas Sul e Norte, bairros de alta renda. “No Plano Piloto, o perfil dos eleitores é mais de centro-esquerda e esquerda. O fato de ela ter tido mais votos em áreas iguais às de Haddad mostra uma correlação que houve entre o Legislativo e o Executivo naquele ano”, afirma o cientista político Ismael Almeida. Contudo, mesmo com o acúmulo de eleitores, o candidato petista não chegou ao segundo lugar em nenhum dos dois bairros.
Outro ponto que merece destaque, segundo Ismael, é que, apesar de uma aparente tendência progressista na área central de Brasília, não é verdadeira a suposição de que as regiões afastadas do centro se inclinem, necessariamente, para a direita.
“Há muitas pessoas de esquerda nas cidades do DF. Para o Legislativo, a maioria dos votos não é ideológica. E isso pode estar ligado à memória política ou à gratidão. O voto para eleger parlamentares é mais de identificação do que identitário. Aqui no DF, ele é muito fidelizado pela memória política da população em relação ao governo (de Joaquim) Roriz. Candidatos que, em algum momento, apoiaram ou tiveram apoio do ex-governador acabaram herdando os eleitores dele”, pontua o especialista, ressaltando que o atual mandatário do DF integra o grupo político ligado ao ex-chefe do Buriti.
Outros cargos
Dos oito deputados federais eleitos para a bancada do DF na Câmara dos Deputados, cinco são de partidos de centro-direita ou direita. E, das 24 vagas para a Câmara Legislativa, oito ficaram com candidatos de centro-esquerda ou esquerda e duas com postulantes do centro. No Senado, entre os escolhidos em 2018 para representar a capital federal teve um nome de centro-esquerda e outro de centro-direita.
Em relação aos senadores mais votados, Ismael Almeida aponta para um fenômeno diferente em relação ao que ocorreu com os deputados federais eleitos pelo DF. No entanto, o resultado se assemelhou à tendência observada naquele ano para todo o Brasil: o destaque para figuras de fora da política, os outsiders.
“A Leila foi a mais votada e, apesar de ser de centro-esquerda (à época, a senadora era do PSB), o eleitor a enxergou sob outra ótica. Ela foi entendida como uma novidade, celebridade, atleta, uma mulher com bagagem em outras áreas de atuação”, analisa.
Para 2022, fora as condições particulares de cada região administrativa, em especial aquelas que podem ter peso pelas características do eleitorado, os nomes que se apresentam como possíveis candidatos ao pleito têm dado atenção a temas diretamente ligados à pandemia da covid-19. Os efeitos da crise sanitária e a forma que adversários em cargos eletivos neste momento lidaram com eles estão no radar dos futuros concorrentes às vagas do ano que vem. Enquanto isso, alguns intensificam a participação em debates, com críticas incisivas contra adversários, elogios ao trabalho de prováveis aliados e, também, com propostas para algumas das áreas mais impactadas neste período, como saúde, economia e mercado de trabalho.
Para a Câmara Legislativa, a avaliação de tendências ocorre de forma mais difícil, segundo Ismael Almeida, devido a indefinições quanto aos posicionamentos políticos e à pulverização de votos. “No DF, o voto para deputado distrital é como se fosse a escolha para vereadores. As pessoas escolhem amigos, conhecidos, vizinhos e candidatos próximos. O recorte ideológico não pesa tanto. Os eleitores enxergam esses parlamentares como aqueles que vão resolver problemas mais locais, como buracos nas ruas, asfaltamento, entre outros”, completa o cientista político.
Colaborou Jéssica Eufrásio
Por Samara Schwingel e Ana Isabel Mansur do Correio Braziliense com informações de Sandra Barreto da Gazeta do DF
Foto: Elio Rizzo/Esp. CB/D.A Press – 31/10/10