Projeto promove arte e inlcusão à Rodoviária do Plano Piloto

Projeto idealizado pelo coreógrafo e pesquisador Camillo Vacalebre propõe experiências de arte e escuta a partir da diversidade. Grupo se apresenta hoje, na Plataforma 1 da Rodoviária do Plano Piloto

Rodoviária do Plano Piloto recebe, neste fim de semana, a residência artística seRparAção — políticas do dançar e da iMpertinência, projeto idealizado pelo coreógrafo e pesquisador Camillo Vacalebre. A iniciativa é aberta ao público e convida a refletir, por meio da arte, sobre diversas formas de inclusão social. As intervenções performáticas começaram ontem. Hoje, as apresentações acontecem às 11h e às 14h, na Plataforma 1 do terminal.

“Há muito tempo eu escolhi a rodoviária como lugar de encontro entre arte e vida“, explica Camillo Vacalebre ao Correio. “A ideia foi juntar um grupo mais heterogêneo possível. Então, pessoas com e sem deficiência, encaram e atravessam todas as dificuldades, complexidades de comunicação entre pessoas com presenças e necessidades diferentes, de maneiras de se comunicar diferentes”, completa o idealizador.

Durante dois meses, participantes se reuniram semanalmente em processos guiados por artistas convidados como Juma Pariri, Estela Lapponi, Marcos Davi, o coletivo Transverso/Patrícia Del Rey, além do próprio Camillo Vacalebre. Segundo Vacalebre, a proposta é desorganizar a palavra separação e provocar sentidos novos. “Ser na separação, separar para ser, ser em ação, e afirmar a diferença como força poética e política”, definiu.

Apresentação

ação na rodoviária é o ápice da imersão perfomática. Segundo Janaína Mello, produtora e gestora executiva da atividade, o projeto tem uma estética livre e abrangente. “A performance vem da dança, do teatro, do cômico. Cada participante trouxe sua carga e sua bagagem para o processo. O que foi trabalhado, discutido e refletido será materializado na performance, nessa paisagem cotidiana que é a rodoviária”, ressalta.

Janaína destaca ainda os desafios e aprendizados da convivência entre diferentes modos de ser e se comunicar. “O grupo é bastante diverso em suas singularidades. Então, o processo de criação foi bastante provocado pela escuta, pela troca e pela sensibilização. A comunicação é algo complexo e, entre um grupo tão heterogêneo, torna-se ainda mais desafiador”, pondera.

Para os participantes, a experiência vai além da arte. Vanessa Dias Fabiano, 45 anos, é deficiente visual e conta como foi particpar da iniciativa. “O projeto mostra que deficiência não é um ponto final. A gente pode fazer aquilo que determinou e se pré-dispôs a fazer. É só quebrar barreiras”, pontua. “Sou muito feliz fazendo parte. Conheci pessoas maravilhosas, histórias de vidas emocionantes. Eu quero levá-los para a minha vida”, acrescenta.

Vanessa detalha que o processo foi uma oportunidade de crescimento pessoal e coletivo. “Durante esses encontros, eu pude me ouvir mais e perceber que posso ocupar espaços que antes nem imaginava. É como se cada encontro tivesse me mostrado um novo pedaço de mim mesma. A gente aprende muito um com o outro, com as diferenças, com o respeito. Isso fortalece a gente como pessoa e como artista”, enfatiza.

Com mais de 15 anos de trajetória na dança, Roges Moraes, 30, dançarino com paralisia cerebral leve, define a vivência como liberdade. “É um espaço que você se joga e que você se entende como pessoa. Eu tenho uma frase que eu falo muito comigo: o seu limite é a sua mente.”

O dançarino ainda reforça o poder da escuta e da entrega dos participantes dentro da residência. “O mais bonito aqui é que ninguém tenta encaixar ninguém em uma forma. A gente se permite. Eu vejo a dança como uma linguagem que fala além das palavras, e aqui, principalmente, onde nem todo mundo se comunica da mesma forma, a dança virou ponte”, conclui Roges.

A residência é fruto de um processo coletivo iniciado em junho deste ano, com encontros realizados no Centro de Dança do Distrito Federal. Financiado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do DF (FAC-DF), o projeto teve como base a prática “Políticas do Dançar”, inspirada nos estudos do artista negro estadunidense Ishmael Houston-Jones. A proposta incluiu escuta, criação a partir da pluralidade de corpos, vivências e formas de comunicação.

Por Gazeta do DF

Fonte Correio Braziliense      

Foto: Davi Cruz/CB/DA Press