Criminosos infiltrados e moradores de rua levam insegurança às quadras

Criminosos infiltrados e moradores de rua levam insegurança às quadras

Um homem em situação de rua foi preso pela Polícia Militar (PMDF) no Guará após ser identificado como foragido da Justiça por furto e ameaças. Ele foi abordado ao sair de um dos barracos improvisados montados em uma praça da QE 07, no Guará I, alvo de reclamações de insegurança por parte de moradores. Segundo a PMDF, o homem apresentava sinais de embriaguez e comportamento alterado.

O ocorrido expõe um problema cada vez mais visível no Distrito Federal: o crescimento da população em situação de rua e os desafios enfrentados por quem vive e convive com essa realidade. Segundo o Censo Distrital do Instituto de Pesquisa e Estatística do DF (IPEDF), o número de pessoas em situação de rua no Distrito Federal cresceu 19,8% entre 2022 e 2025. A pesquisa, divulgada em abril deste ano, mostra que em janeiro de 2025 o DF tinha 3.521 pessoas vivendo nas ruas. 

Para especialistas, o fenômeno tem causas profundas. “Essas pessoas são expulsas do mercado de trabalho formal e acabam sobrevivendo à margem da cidade e da sociabilidade”, explica a professora do curso de serviço social da Universidade de Brasília (UnB), Maria Elaene Rodrigues.

Segundo ela, as principais causas que levam essas pessoas às ruas incluem a negação do direito ao trabalho e à moradia digna, a desresponsabilização do Estado, a dissolução dos laços sociais e o racismo estrutural. “Muitas resistem ao acolhimento por medo de perder autonomia, vivências de violência institucional, promessas não cumpridas e ausência de escuta qualificada. O acolhimento efetivo só ocorre a partir de vínculos de confiança e do reconhecimento do direito à cidade e à dignidade”, afirma.

Diante desse cenário complexo, o Governo do Distrito Federal (GDF) afirma ter reforçado suas políticas de assistência. “Reconhecemos o aumento do número em virtude ainda dos impactos da pandemia e da crise econômica que veio em sua esteira”, explicou a Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes). A pasta afirma que, desde 2019, o número de vagas em abrigos passou de 300 para mais de 1.300. Em 2025, estão previstas mais 550 novas vagas.

Além disso, a Sedes destacou o Guia de Ações e Serviços para a População em Situação de Rua no Distrito Federal, que reúne mais de 40 serviços públicos voltados a essa população. Entre eles estão o programa Prato Cheio, que oferece nove parcelas mensais de R$ 250 para a compra de alimentos, e os serviços de acolhimento institucional, que disponibilizam dormitórios, lavanderia e alimentação para adultos de até 60 anos.

Medo e convivência

Os números refletem no dia a dia de quem passa pelas áreas centrais da cidade. Apesar dos esforços de acolhimento e assistência, a convivência com a população em situação de rua ainda é marcada por tensão e insegurança em várias regiões do DF. Moradores relatam episódios de violência, brigas e casos frequentes de uso, porte e até tráfico de drogas nas proximidades de praças, viadutos e áreas comerciais.

Segundo dados da Polícia Civil (PCDF), o número de pessoas em situação de rua envolvidas em ocorrências com entorpecentes cresceu 71% entre 2020 e 2024, onde os registros saltaram de 169 para 289 casos anuais, com 169 pessoas já envolvidas somente nos primeiros cinco meses deste ano. 

Nayara Alcântara, que trabalha próximo ao Conjunto Nacional, conta que evita estacionar na região por medo de violência e do uso de drogas. “Lá atrás, perto do estacionamento, tem muito usuário de droga e até tráfico. Já fui xingada por um homem que parecia estar bêbado porque não estacionei onde ele queria”. 

Cristiane Ribeiro, comerciante na Asa Norte, relata problemas na porta da loja que administra. “Uma vez, negamos produtos para uma mulher e ela ficou completamente alterada. Chamamos a polícia e ela foi conduzida pra delegacia”, contou.

Moradora de Taguatinga Sul, Cristiane relata insegurança na região onde vive. “Do lado do meu prédio, montaram uma barraca. Outro dia, um homem me abordou pedindo dinheiro. Quando neguei, ele ameaçou quebrar meu carro. Tive que ligar para a polícia”, relembrou.

Ações de acolhimento

Segundo a Secretaria de Estado de Proteção da Ordem Urbanística do Distrito Federal (DF Legal), desde junho de 2023 já foram feitas 279 ações de acolhimento em 15 regiões administrativas. “Eles recebem a oferta de diversos serviços em áreas como saúde, educação e assistência social, além de orientação sobre cuidados com animais domésticos e benefícios como deslocamento interestadual”, informou a pasta. 

As ações são coordenadas pela Casa Civil, e também oferecem auxílio excepcional de R$ 600 para aqueles sem condições de pagar aluguel, além de vagas em abrigos, programas de qualificação profissional e o cadastro em unidades habitacionais disponíveis. 

Após os atendimentos, as estruturas são desmontadas pela DF Legal, com transporte dos pertences ao local indicado pelo ocupante ou para o depósito da secretaria, no SIA, onde podem ser retirados em até 60 dias, sem custo. 

Por Gazeta do DF

Fonte Correio Braziliense       

Foto: Ed Alves/CB/DA.Press