Assim como o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) e o Instituto Federal de Brasília (IFB), outras empresas que fomentam programas de capacitação em tecnologia da informação (TI) são a Senior Sistemas, que oferece soluções para o desenvolvimento de softwares, e a Simpress, fornecedora de equipamentos de TI. No caso da primeira, voltada para a contratação de profissionais, a formação é presencial em Blumenau (SC) e as inscrições estão abertas para todos os estados do país. Já na segunda, a capacitação é exclusiva para as mulheres operadoras de site da companhia que atuam em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Minas Gerais e no Paraná.
Para Silvia Gesser, coordenadora de desenvolvimento da Senior, a alta concorrência do mercado de TI, a busca pela digitalização e as possibilidades de atuação no campo contribuem para a maior exigência por profissionais especializados. “Depois da pandemia, teve um boom de desenvolvedores, muitas pessoas trabalhando de home office, e as empresas precisando se modernizar e se abrir para o mercado mundial por meio de novas contratações. Além disso, esses profissionais têm mais opções de emprego, aumentando a demanda pela capacitação.”
Daniela Santos, diretora de RH da Simpress, destaca a importância da capacitação na área, a fim de lidar melhor com possíveis adversidades no mercado. “A capacitação tem a ver, também, com a sustentabilidade do negócio, porque as pessoas se movimentam na carreira. Então, ter um banco de talentos faz com que a gente tenha agilidade se houver a ruptura de algum profissional”, defende.
Do estágio ao emprego
Um dos programas fomentados pela Senior Sistemas é a Universidade Corporativa (UCS), que promove o crescimento profissional por meio de videoaulas, treinamentos presenciais e transmissões ao vivo. Na UCS, o programa GoDev, pelo qual Silvia Gesser é responsável e que tem duração de 10 meses, foca na capacitação técnica voltada para jovens em início ou migração de carreira, visando à empregabilidade.
Segundo Silvia, trata-se de um programa de estágio cujo objetivo é contratar profissionais para a Senior Sistemas. “Eles têm treinamentos sobre lógica de programação, banco de dados e disciplinas voltadas para o desenvolvimento de software, podendo ser contratados, o que geralmente ocorre em torno de três meses no programa”, explica.
João Machado, 19, fez essa formação e foi contratado como desenvolvedor de software na XPlatform, unidade de negócios da Senior. Ele conta que, antes de ingressar no programa, fez alguns cursos na área de tecnologia e trabalhou como técnico de suporte, mas o interesse pela parte de desenvolvimento o levou a buscar a capacitação, conquistando uma vaga nesse campo. “Eu vi, no programa, uma oportunidade de aprender sobre minha área de interesse e rotina de trabalho, além de ingressar no mercado de trabalho”, relata.
João diz que a formação agregou positivamente sua trajetória, com conhecimentos técnicos, troca de experiências e um novo olhar sobre seu percurso. “Foi muito gratificante poder aprender e dividir ideias com pessoas de cidades diferentes. Saindo do programa, segui com mentalidade de aprendizado contínuo, conquistando minha primeira certificação em cloud practitioner em 2024”, compartilha. Para o futuro, ele pretende continuar se especializando nessa área e desenvolvendo projetos inovadores na empresa.
Assim como João, Nicole Bauchspiess, 21, também estava transicionando da área de suporte para a de desenvolvimento e buscou o GoDev na intenção de crescer na carreira. Rapidamente, ela foi contratada como desenvolvedora de plataforma, após passar dois meses e meio no programa. “Todas as tecnologias que a gente aprendeu, desde banco de dados até a parte de testes, eu uso no meu dia a dia e contribuíram para minha evolução”, diz a profissional.
Apesar do curto período no programa, ela considera que conseguiu adquirir as habilidades necessárias para a profissão. “Como são seis horas por dia focada nos estudos, deu bastante tempo para estudar”, conta. Agora em diante, Nicole pretende seguir na área de desenvolvimento, especializando-se em computação em nuvem: “Acredito que tenho bastante oportunidade de crescimento”.
Mulheres em TI
Segundo a pesquisa Cargos Tech e Digital 2023, encomendada pela consultoria de pessoas e talentos Mercer e feita com 559 empresas e mais de 150 mil profissionais, 70% dos cargos digitais e de tecnologia no Brasil são ocupados por homens. Com objetivo de transformar essa realidade e ampliar a participação feminina na área tecnológica, a Simpress desenvolve o Programa Mulheres em TI, voltado ao desenvolvimento das operadoras de site da companhia, visando à promoção para os cargos de técnicas, analistas e líderes de serviços.
Atualmente, o programa, que surgiu em 2022, conta com 31 participantes. Por meio de uma parceria com a Faculdade Estácio de Sá, a empresa oferece gratuitamente o curso de tecnólogo de redes de computadores na modalidade de ensino a distância (EaD) e com duração de cinco semestres, isto é, cerca de dois anos e meio. A primeira turma, única formada por homens e mulheres, irá se formar no primeiro semestre deste ano. Das profissionais que estão no programa, 13 já foram promovidas, o que representa um total de 55% das integrantes.
“A gente vem trabalhando a temática de diversidade e inclusão há alguns anos e, diante do desafio de aumentar o número de mulheres em TI, mudamos o rumo do programa para que elas cresçam, seja na TI tradicional, seja na infraestrutura e desenvolvimento, seja na área de field service (serviço em campo)”, explica a diretora de RH Daniela Santos.
Além do curso de nível superior, a empresa oferece capacitação para as funcionárias por meio de cursos técnicos em tecnologia e treinamentos de liderança e habilidades socioemocionais, as chamadas soft skills. Para Daniela, a ação traz benefícios não só para a empresa, mas para as profissionais capacitadas, para o mercado de TI e para a sociedade.
“Além da diversidade de gênero na empresa, temos uma diversidade de ideias e o crescimento profissional à medida que aprendemos com o outro e trabalhamos juntos. Também há um ganho para a sociedade como um todo, pois isso aumenta a empregabilidade das mulheres em carreiras que, prioritariamente, são mais desejadas ou mais ocupadas por homens e cria, nelas, um desejo de crescer”, ressalta Daniela.
Brenda dos Santos, 26, está na Simpress há três anos, iniciando como jovem aprendiz e sendo efetivada como operadora de site. Ela ingressou na primeira turma do programa e foi promovida à técnica de eletrônica. Ela considera a experiência “maravilhosa”, pois não tinha condições financeiras para bancar uma faculdade. “Ter esse curso 100% financiado foi uma honra para mim e minha família. Esse é meu primeiro emprego de carteira assinada e serei a primeira de quatro irmãos a fazer faculdade”, conta, orgulhosa.
Nascida em 8 de março, Dia Internacional da Mulher, Brenda diz que se sente representada na posição profissional que ocupa, valorizando o apoio de colegas de trabalho e se percebendo como exemplo para outras mulheres. Nos próximos anos, ela deseja se formar e continuar no ramo de informática. “Não existem profissões ‘de homens e de mulheres’. Nós podemos estar onde quisermos, só precisamos de capacitação e ter postura ativa. Independentemente de cor ou gênero, nós somos iguais”, defende.
Michelle Oliveira, 35, está na Simpress há seis anos e, por meio de formação interna, foi promovida de operadora a auxiliar administrativa. Em seguida, entrou para o Mulheres em TI e alcançou a liderança de serviços. Assim como Brenda, ela será a primeira entre os irmãos a se formar na graduação e pretende se desenvolver cada vez mais. “Acho que isso foi um divisor de águas, porque eu nem pensava mais em estudar; e mães, como eu, não têm muito espaço no mercado. É sobre acreditar que nós, mulheres temos potencial e somos capazes de alcançar o que almejamos.”
*Estagiária sob a supervisão de Júlia Giusti
Por Júlia Giusti do Correio Braziliense
Foto: Wanessa Marinho / Reprodução Correio Braziliense