Há cinco anos, DF confirmava o primeiro caso de covid-19

Ao longo desse tempo, foram mais de 950 mil registros da doença e 12 mil óbitos na capital

Maiara Marinho
redacao@grupojbr.com

Há exatos cinco anos era anunciado o primeiro caso de transmissão do coronavírus no Distrito Federal. De lá para cá, foram registrados 959.480 casos na capital federal e 12.032 óbitos em decorrência da covid-19. De acordo com dados do Ministério da Saúde, em 2024, foram aplicadas 203.555 mil doses no DF, 4.626.830 milhões a menos do que em 2021, quando o número foi de 4.830.385 milhões de doses aplicadas, incluindo as de reforço. Segundo a Secretaria de Saúde (SES/DF), o primeiro caso foi confirmado no dia 5 de março de 2020.

O lockdown, por sua vez, foi suspenso e retomado algumas vezes. O primeiro decreto que tratava do assunto é do dia 11 de março e suspendia por cinco dias eventos com público superior a 100 pessoas, suspendia as aulas nas escolas e universidades da rede pública e privada e orientava sobre o distanciamento em locais públicos, como bares e restaurantes, entre outros protocolos de segurança.

Três dias depois, em 14 de março, um novo decreto – mais rígido – foi publicado, determinando o fechamento de shoppings, academias e cinemas, além de suspender eventos esportivos e limitar o funcionamento de bares e restaurantes, por um período de 15 dias, com o objetivo de conter a disseminação do vírus. Nesta data, o DF tinha apenas um caso confirmado.

Ao longo da pandemia, o governo do DF adotou um sistema de abre e fecha, ajustando as restrições conforme a evolução dos casos e a ocupação dos hospitais, com intervenção da Justiça do Distrito Federal em ocasiões de flexibilização, quando ainda havia alta no contágio do vírus e nos óbitos. Com o avanço da vacinação, a liberação total só aconteceu em 2022.

No dia 25 de abril de 2020, foi a primeira vez que o Distrito Federal alcançou mil casos confirmados de contaminação. Exatos um mês depois, em 25 de maio, já passavam dos seis mil, e uma semana depois, chegaram aos 10 mil. A partir daí, mais de mil casos por dia eram registrados. Esse número começou a recuar apenas em julho de 2022. Portanto, as duas grandes ondas de transmissão ocorreram entre o segundo semestre de 2020 e o primeiro de 2021.

Ainda de acordo com o Painel da covid-19 no DF, o primeiro óbito aconteceu no dia 23 de março de 2020. As mortes mantiveram-se estáveis, oscilando entre 10 a 25 por dia, exceto no período entre março e abril de 2021, quando os óbitos chegaram a 80 por dia. O Plano Piloto (122.427 mil), Ceilândia (79.715 mil), Taguatinga (68.872 mil), Águas Claras (54.162 mil) e Guará (51.276 mil) foram as regiões administrativas com mais casos de infecção pelo vírus.

O começo de tudo

Antes da doença chegar ao Brasil, alguns países já estavam em alerta extremo. No dia 31 de dezembro de 2019, um aviso sobre vários casos de pneumonia de origem desconhecida na cidade de Wuhan, na China, foi enviado à Organização Mundial da Saúde (OMS).

Ao final de 2020, um ano depois, 1,9 milhão de vidas haviam sido perdidas em todo o mundo. A Europa (574.911), a América do Norte (531.446) e a América do Sul (418.355) foram os territórios que mais registraram mortes naquele ano, conforme dados do Our World in Data (OWD), uma iniciativa da Universidade de Oxford, no Reino Unido.

No Distrito Federal, o primeiro ano da pandemia registrou 251,7 mil casos de infecção pelo vírus e 4,26 mil óbitos. Em 2022, esses números estavam em mais de 800 mil e 11 mil, respectivamente. Diante desse cenário, com a imposição do isolamento, os índices de desemprego e mesmo a impossibilidade da despedida de entes queridos se evidenciaram na crise. A média de desemprego no DF ficou em 17,5%, entre 2019 e 2022, ou aproximadamente 280 mil pessoas.

Aos 18 anos, Samara Guedes, moradora do Recanto das Emas, trabalhava como vendedora em uma loja de ferramentas no Riacho Fundo I, em 2020. Nessa época, ela engravidou. “Devido a isso, pedi demissão por medo de prejudicar minha saúde e da minha bebê”, contou. Mesmo se resguardando, Samara contraiu o vírus antes da produção da vacina e, ao longo de 15 dias, sentiu muita falta de ar aos seis meses de gestação. “A bebê não foi afetada”, conta Samara.

Recuperada, ela precisou lidar com a perda do avô por covid-19, que ocorreu antes de ter a oportunidade de entrar na fila da vacinação. “Ele era uma pessoa extremamente importante para mim e foi muito doloroso não poder me despedir dele adequadamente”. Isso porque o avô de Samara, de 75 anos, foi colocado em um saco mortuário para ser enterrado. “Além disso, a incerteza de não saber se o corpo que estava naquele saco preto era realmente o dele foi um sofrimento ainda maior”, relatou.

À época, no dia 4 de setembro de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu orientações sobre o manejo de cadáveres vítimas de covid-19.

Já o pai da engenheira de controle e automação Ada Oliveira, 28 anos, uma das centenas de milhares de vítimas de covid-19, foi velado. “Como ele não tinha mais o vírus, aí ele pôde ser velado e enterrado. Não foi como as pessoas que não conseguiam nem se despedir”, contou Ada. Mesmo assim, a dor da despedida não foi menor. Enquanto morava no Lago Sul, o pai de Ada estava em Teresina, no Piauí, quando teve a doença.

Fake news

“Eu sempre me vacinei, minha mãe trabalha na área da saúde, então nosso calendário vacinal em casa sempre foi seguido à risca. Inclusive, quando eu fiz tatuagem e coloquei piercing, ela sempre orientava sobre as vacinas necessárias contra hepatite, por exemplo”, relembrou a assessora Caroliny Rodrigues, de 32 anos, moradora do Entorno do Distrito Federal.

Apesar disso, ela teve medo dos efeitos colaterais da vacina. “Não é que questionei a eficiência da vacina. Mas se ouvia falar que a vacina podia levar ao câncer mais tarde porque não estava sendo testada direito. Com muitas fake news rolando, tudo isso ia te dando medo”, explicou Caroliny, que chegou a se perguntar se deveria tomar a vacina. “É melhor morrer de covid-19 ou é melhor morrer de um câncer futuro?”, pensava.

Após acessar informações na imprensa e escutar especialistas e infectologistas de que a nova vacina tratava-se de uma vacina segura e eficaz, a assessora não perdeu tempo. “Assim que a vacina foi liberada para a minha idade, eu corri e tomei”, disse.

Além de Caroliny, a aposentada Walquíria Lélia Pereira, de 62 anos, também demonstrou resistência para confiar na vacina. Um dos argumentos era de que as pesquisas eram muito recentes e isso causava o receio de ser muito cedo para fabricá-la.

“Para muitas outras doenças não tinham vacinas fabricadas ainda, com estudo, e nunca teve. Quando saiu a da covid-19, eu pensei: ‘já?’, então tinha uma resistência muito grande”, só que eu tive covid e fiquei doida para tomar a vacina”, relatou a aposentada.

Por Jornal de Brasília

Foto: Reprodução Jornal de Brasília