Presentes em miniaturas nas casas ou em tamanho natural em igrejas e espaços públicos, os presépios são representações artísticas da tradição cristã que narram o nascimento de Jesus, em Belém, na Judeia, região da Palestina. A palavra vem do latim praesaepe, que significa “estrebaria” ou “curral”.
No Santuário Nossa Senhora da Saúde, na Asa Sul, dois grandes presépios chamam a atenção: um instalado na área interna e outro do lado de fora. O padre Marcelo Souza, cooperador da paróquia, afirma que a montagem relembra a presença de Jesus da forma como Deus o fez vir ao mundo. “As pessoas aguardam a montagem, e é comum que haja visitações aos dois presépios, sobretudo por crianças, que esperam a vinda de Jesus e se recordam com alegria da chegada do Natal”, diz.
Entre os visitantes, Eliete Galvão, 55 anos, mantém o hábito desde a infância. “Para mim, o presépio é tudo. Significa o nascimento de Jesus. Acho uma montagem linda; passo em várias igrejas só para vê-los”, conta.
Letícia Miranda de Araújo, 28 anos, visitou o Santuário Nossa Senhora da Saúde pela primeira vez. Diferentemente de Eliete, Letícia passou a frequentar a Igreja Católica há pouco tempo, apesar de ser cristã. Impressionou-se com as representações. “Estou realmente chocada, porque são presépios lindos. Vale muito a pena a visita”, comenta a analista de sistemas.
Tradição no DF
Em Ceilândia, Antônio Eustáquio da Silva, 68 anos, monta todos os anos um grande presépio iluminado dentro e fora de casa. A estrutura se tornou ponto de visitação para moradores e para escolas com crianças de 6 a 8 anos.
A prática ganhou força após a morte da mãe, que valorizava os símbolos do Natal. “Essa tradição virou um ponto turístico. Há muitos anos, montamos a casa com ênfase no presépio, que para mim é o fundamental da data”, afirma o representante comercial.
Há 24 anos dedicado à montagem, Toninho — como é conhecido — percebe mudanças na relação das famílias com o Natal, mas vê a tradição resistir. “Vejo pessoas passando em frente e noto a emoção delas, além do sorriso das crianças. Isso me alegra muito.”
Ele conta que também recebe visitantes mais velhos. “Essa emoção me dá um ar de vitória, de prazer conquistado. Fazemos isso para o bem e a satisfação das pessoas”, celebra.
Esperança
A catequista Maria Ferreira, 76 anos, monta um presépio de tamanho médio com peças que comprou na Itália, no início dos anos 2000 — artigos que permanecem conservados até hoje. “As peças estão bem cuidadas, porque embalo cada uma direitinho. Já são 24 anos usando-as para a representação”, explica.
Com a chegada do Natal, ela recebe visitas de amigos e familiares que querem ver o presépio. “É gratificante notar essa curiosidade, mas sinto também uma força renovada que vem de dentro, de que podemos fazer essa montagem.”
A manifestação artística acompanha Maria desde a infância, quando via a mãe erguer presépios em Trindade, cidade de Goiás de forte tradição católica. “Para mim, essa representação significa esperança de acontecimentos bons — tanto no dia de Natal quanto para o ano novo. Queremos que o próximo seja melhor, e quem pode fazer isso é Jesus.”
Com todos esses significados e a força da tradição, Maria acredita que todo mundo deveria ter um presépio em casa. “Presenciamos esperança e outros sentimentos positivos por meio da história do nascimento de Jesus, que traz paz para o fim do ano e para o ano que chega”, defende.
Arte que move
Andreoni Pellinsky Cavalcanti, 45 anos, dedica-se à montagem de presépios em igrejas e também em casa. Primeiro, ele cuida da estrutura, usando madeira ou papelão. Depois, aplica papel pardo amassado para criar textura de pedra. Também utiliza spray nas cores preto, verde e dourado, folhagens, palha, plantas artificiais e serragem para compor o cenário.
A paixão nasceu na infância, quando freiras o convidaram para ajudar nas montagens. “Amo fazer essas representações, porque são a essência do Natal. Um menino veio ao mundo para nos salvar — isso foi a base de tudo para que eu amasse tanto fazer”, afirma.
O cenógrafo realiza todo o trabalho de forma voluntária, mas diz que desempenha cada etapa com prazer. “Nunca ganhei dinheiro com isso. Faço porque quero dar um pouco de mim para que aconteça. Meu pagamento é ver as pessoas tirando fotos e apreciando. Meus ganhos vêm de outras formas; com Deus, nunca é material. O amor é a essência que me move.”
Elementos e significados
O primeiro presépio vivo foi montado em 1223, em Greccio, na Itália, por São Francisco de Assis. O objetivo era ajudar os camponeses — em sua maioria analfabetos — a compreender as Sagradas Escrituras.
Frei Edgar, reitor do Santuário Santo Antônio, explica que, para São Francisco, o presépio era uma revelação concreta do Evangelho. “Desde então, cada presépio é uma escola silenciosa onde aprendemos quem é Deus e como devemos nos aproximar Dele.”
Para a Igreja Católica, a montagem do presépio conduz os fiéis a experimentar o amor divino, o desapego, a fraternidade e a paz. A tradição permanece viva em todo o Brasil, com montagens em paróquias, santuários, dioceses e arquidioceses, em diferentes tamanhos, materiais e estilos.
O presépio reúne elementos específicos que narram o contexto anterior e posterior ao nascimento de Jesus: Maria, José, o Menino Jesus, a manjedoura, os pastores, os Reis Magos — Belchior, Gaspar e Baltazar —, o anjo, a estrela de Belém e os animais.
Segundo Frei Edgar, o presépio “não é apenas uma cena do passado, mas um lugar espiritual”. Para ele, “cada elemento é mais do que uma lembrança; é um convite para deixar Deus nascer nos lugares pobres da vida, acolher com simplicidade, viver como irmãos e abrir espaço para o amor”.
Personagens do presépio
| Menino Jesus | Salvador da humanidade; Filho de Deus encarnado, que representa humildade, simplicidade e inocência como caminho para chegar a Deus. Foi colocado na manjedoura — símbolo do “pão da vida”; Belém significa “casa do pão”. A descida à terra eleva a dignidade de todas as criaturas. |
| Maria | Mãe de Jesus, que o concebe antes de tudo pela fé humilde, significa a humanidade que diz “sim” a Deus (“Fiat”), é um modelo de disponibilidade e abertura à palavra divina; e simboliza o ser humano capaz de gerar Deus interiormente, no coração. |
| José | Pai legal de Jesus, homem “justo”; a justiça é abertura ao mistério e à ação surpreendente de Deus. é o protetor de Maria e do Menino.; partilha das dificuldades: perseguição de Herodes e exílio no Egito; e é um exemplo de fidelidade em meio às adversidades. |
| Pastores | Estavam acordados na noite do nascimento, vigiando seus rebanhos; eram socialmente marginalizados; representam os pobres, simples e humildes. Por serem os primeiros a receber a notícia do nascimento mostra a preferência de Deus pelos pequenos. Mostram o cuidado: lembram que o ser humano deve ser cuidador do mundo e vigilante da história. |
| Reis Magos | Representam os não judeus, os povos gentios; símbolo dos buscadores da verdade em todas as culturas (a estrela como guia). Eram sábios da Pérsia; mais tarde identificados como reis pelas profecias bíblicas e tinham os seguintes dons: – Ouro (Belchior): realeza de Jesus. – Incenso (Gaspar): divindade e santidade. – Mirra (Baltazar): humanidade e mortalidade. |
| Anjos | A palavra “anjo” significa “mensageiro” (ángelos, grego); informam a boa notícia do céu à terra (evangelho); representam harmonia e serviço a Deus em favor da humanidade; e estão presentes como coros, simbolizando unidade na diversidade dos seres espirituais. |
| Estrela de Belém | Indica que o nascimento de Jesus tem dimensão universal e cósmica; na antiguidade, era sinai de destino. Representa a luz divina no universo e a centelha divina na alma humana; e é guia dos buscadores de Deus, da verdade e do bem — de qualquer cultura ou origem. |
Fonte: Marcos Aurélio Fernandes, professor de filosofia da Universidade de Brasília (UnB).
Por Gazeta do DF
Fonte Correio Braziliense
Foto: Ed Alves CB/DA Press















