A importância de políticas públicas voltadas à população negra foi tema do Podcast do Correio, que teve como convidadas a deputada distrital Doutora Jane (Republicanos); Dai Schmidt, produtora de moda e idealizadora do Desfile Beleza Negra (DBN); e Luana Maia, subsecretaria de Proteção à Mulher do Distrito Federal. No Mês da Consciência Negra, elas falaram às jornalistas Mila Ferreira e Aline Gouveia sobre letramento racial, presença de modelos negras no mundo da moda e violência contra a mulher, entre outros temas.
Autora do Projeto de Lei nº 2.002/2025, que institui o Programa de Letramento Racial do Distrito Federal, Jane mencionou como exemplo de boa prática, nesse sentido, uma ação da Defensoria Pública (DPDF), que disponibiliza uma cartilha com termos preconceituosos, os significados e o porquê é errado utilizá-los.
Para ela, isso ajuda na mudança de mentalidade e de comportamentos por meio da educação. “É melhor formar o cidadão para que entenda, respeite, se porte corretamente e, quando eu falo, é treinar o servidor público, a própria polícia, o comércio”, disse a parlamentar, que é presidente da Comissão do Direito das Mulheres da Câmara Legislativa (CLDF).
A ideia do projeto é capacitar profissionais do serviço público e empregados do comércio, entre outros setores, sobre equidade racial, discriminação e direitos humanos, sendo um instrumento educação, ensino e posicionamento das pessoas frente ao racismo. “A partir do momento em que essas pessoas têm segurança e conhecimento, elas também passam a ser ativistas ou a combater o racismo de forma ativa, porque uma coisa é não ser racista, abster-se e falar ‘olha, não esculacho ninguém, não uso critério de pele para definir as pessoas ou sua capacidade’. Outra coisa é interferir quando alguém fala de forma equivocada, quando alguém maltrata e diminui o outro”, destacou Jane.
Passarelas
Dai Schmidt idealizou o Desfile Beleza Negra depois de passar por agressões e perceber o tratamento para pessoas negras quando trabalhava em agências de modelos. Ela também observou a participação de modelos negras que seguiam padrões eurocêntricos. “Quando se coloca pessoas negras para fazer propagandas, elas têm traços finos, cabelo alisado, para enquadrá-las no padrão de moda, para nos deixar como espelho de pessoas brancas”, analisou.
Em 2012, ela fez um protesto na Rodoviária do Plano Piloto, quando o Brasília Fashion Week estava realizando um evento e houve grande repercussão. Diante disso, o Ministério Público passou a fiscalizar e exigir que os eventos de moda em Brasília tivessem pessoas negras.
Depois da manifestação, ela estudou e aprendeu sobre como fazer um evento de moda, sendo inserida no mercado. Com todo o aprendizado, lançou o DBN. “O desfile vem de várias histórias, não só de questões da agência, mas também com a minha história, em que o racismo já começa na infância, e queremos alisar o cabelo e nos comparar com pessoas brancas”, relata.
Neste ano, a 24ª edição do desfile, do qual Doutora Jane é madrinha, será em 20 de novembro, Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Nega, às 19h, na torre A do shopping Liberty Mall.
Proteção
A busca ativa por mulheres vítimas de violência foi abordada por Luana Maia, subsecretária de Proteção à Mulher do DF, que participou da parte do final do podcast. Ela coordena os sete comitês de proteção as mulheres do Distrito Federal, que promovem esse trabalho, e constatou um dado preocupante. “Em 2025, tivemos mais de 1,5 mil atendimentos em comitês, sendo que mais de 300 são vítimas de violência doméstica e familiar — a maioria são mulheres negras em situação de vulnerabilidade”, disse.
As equipes de busca ativa percorrem comércio, órgãos públicos e escolas, divulgando sobre o que é, para que serve, quem criou, onde os comitês estão, deixando materiais informativos. “Acreditamos que quanto mais informarmos sobre (violência contra a mulher), mais ajudamos a diminuir esses índices”, defendeu.
A subsecretária reforçou que a iniciativa de ir a esses locais é importante para o fortalecimento dos cômites. “Além o cuidado com a mulher, trabalhamos com programas como o “Mulheres Fortes, Comitês Ativos”, em que saímos uma ou duas vezes ao mês em cada região, fazemos divulgação boca a boca, porque, como é uma medida nova, muitos não conhecem”, descreveu.
Debate
O Correio promove, na próxima quarta-feira (19/11), o debate” Histórias de Consciência: mulheres em movimento”. O evento acontece no auditório do jornal, às 14h, e é gratuito. O debate será em torno de pautas relacionadas à trajetória de resistência e valorização da mulher negra.
A iniciativa reúne informação e memória para exaltar o protagonismo de mulheres negras do Distrito Federal e de todo o Brasil. Durante os painéis, o público poderá conhecer trajetórias inspiradoras de resistência e transformação, além de refletir sobre o papel das mulheres negras em diferentes áreas da sociedade.
De acordo com dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED-DF), em 2023, 60,8% das pessoas ocupadas se autodeclararam pretas ou pardas, o que mostra o papel ativo desse grupo na sustentação da economia local.
Inscrições
CB.Debate “Histórias de Consciência: mulheres em movimento”
Data: 19/11, a partir das 14h
Local: Auditório do Correio Braziliense
Entrada gratuita, com retirada de pela plataforma Sympla
Por Gazeta do DF
Fonte Correio Braziliense
Foto: Benjamin Figueiredo




