Despertar a curiosidade dos estudantes durante a alfabetização é essencial, sobretudo quando se trata de crianças e adolescentes cegos e com baixa visão, que precisam aprender a ler com os dedos. Para facilitar o processo, as professoras da sala de recursos do Centro de Ensino Fundamental (CEF) 1 de Planaltina criaram materiais pedagógicos que auxiliam no desenvolvimento da motricidade fina necessária para a leitura em braile.
As peças compõem a exposição Na Ponta dos Dedos, disponível na 4ª Feira de Acessibilidade do Distrito Federal. O evento começou nesta sexta-feira (12) e segue até sábado (13), no Alameda Shopping, em Taguatinga, das 10h às 19h. A ação é organizada pela Biblioteca Braille Dorina Nowill, equipamento da Secretaria de Educação (SEEDF). Participam também as secretarias da Pessoa com Deficiência (SEPD) e da Cultura e Economia Criativa (Secec), além da Regional de Ensino de Taguatinga.
No estande da exposição, o público pode conhecer os artigos que permitem a compreensão do sistema braille, um código tátil em relevo formado por células de até seis pontos dispostos em duas colunas, para representar letras, números e sinais. As peças foram criadas com objetos diversos, como caixas de ovos, bolas de gude e tampas de produtos de limpeza, reunindo diferentes texturas, tamanhos e formatos.
“Começamos a confeccionar os materiais quando recebemos alguns alunos que não eram alfabetizados em braille. O trabalho ajuda no entendimento da questão espacial e da lateralidade do sistema, que combina pontos para formar palavras, sílabas, sinais matemáticos, notas musicais”, explica a professora Luciane Sousa, autora do livro Material pedagógico e alfabetização: Possibilidades para estudantes com deficiência visual.
A sala de recursos do CEF 1 de Planaltina atende, atualmente, a 25 estudantes do ensino infantil ao ensino médio. São crianças e adolescentes que, por diversos motivos, precisam descobrir o mundo das letras com os dedos. “O objetivo é promover uma alfabetização agradável, alegre, que provoca a criança, que desperta o pensamento. Hoje temos vários alunos alfabetizados, alguns com déficit intelectual”, compartilha Sousa.
Os artigos também servem para o ensino de ciências exatas. “Percebemos que o maior desafio é que a matemática é abstrata. Então, com esses materiais, o conteúdo fica concreto, muito mais dinâmico e desperta o interesse dos alunos”, afirma a professora Luciana Menezes. “Está sendo gratificante compartilhar esse conhecimento aqui na feira. As pessoas ficam empolgadas com o nosso trabalho, além de que temos contato com ideias novas muito interessantes”, acrescenta.
A criatividade do método chamou a atenção do revisor de textos em braille Charles Jatobá, 54 anos. “A exposição tem um acervo muito amplo e que vai ao encontro daquilo que o deficiente visual precisa para se alfabetizar e desenvolver a coordenação motora fina”, afirma ele, que atualmente preside o Instituto Blind Brasil, outro expositor da 4ª Feira de Acessibilidade do DF. “Esse espaço proporciona que a sociedade esteja diante de ferramentas facilitadoras da inclusão, mostrando que a cidadania é possível para todos”, completa.
Inclusão e valorização da pessoa com deficiência
A 4ª Feira de Acessibilidade do Distrito Federal conta com uma programação variada: saraus, exposições, palestras, mesas de debate e apresentações culturais. “A cultura é um direito de todos e deve ser um espaço de inclusão e acessibilidade”, destaca o secretário de Cultura e Economia Criativa, Claudio Abrantes. “A feira reafirma nosso compromisso em promover a diversidade e garantir que a produção cultural seja inclusiva e representativa de todos os cidadãos do Distrito Federal.”
Nas últimas três edições, o encontro cresceu em alcance e relevância, se consolidando como o maior da capital federal dedicado à inclusão social. O secretário da Pessoa com Deficiência, Willian Ferreira da Cunha, ressalta a importância da iniciativa. “É uma demonstração de soluções que buscam melhorar a qualidade de vida das pessoas com deficiência”, pontua.
Segundo a coordenadora da Biblioteca Dorina Nowill, Eliane Ferreira, está é a primeira vez, desde 2022, que são apresentadas iniciativas de outras deficiências, além da cegueira e baixa visão. “O público cresceu e o número de participantes também. Temos instituições que acolhem diversas deficiências e trazem muita informação sobre acessibilidade, desafios, direitos e avanços das pessoas com deficiência”, afirma.
Estão participando a Biblioteca Nacional de Brasília, com a tradicional Mala do Livro, a Academia Taguatinguense de Letras, o Centro de Ensino Especial para Deficientes Visuais (CEDV), a Biblioteca Pública da União e a Fundação Dorina Nowill, de São Paulo, entre outras entidades.
Por Gazeta do DF
Fonte Agência Brasília
Foto: Matheus H. Souza