Em clima de tranquilidade e sob céu ensolarado, cerca de 80 mil pessoas, segundo a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP/DF), tomaram a Esplanada dos Ministérios para assistir ao desfile cívico-militar do 7 de Setembro que, neste ano, teve como slogan “Brasil Soberano”. Com as arquibancadas lotadas já às 7h, muitos espectadores permanecerem em pé próximos às grades durante as duas horas e meia de evento.
Bandeiras tremulando, bonés distribuídos gratuitamente com os dizeres oficiais e mascotes que circulavam entre os espectadores deram o tom da festa verde, amarela e azul. Quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou, por volta das 9h30, o público gritou “soberania não se negocia” e “Lula guerreiro do povo brasileiro”. E os gritos não pararam até o final do desfile. O governador Ibaneis Rocha (MDB), em viagem aos Estados Unidos, e a vice-governadora Celina Leão (PP) não compareceram à celebração.
O estudante Miguel Trajano, de 18 anos, atravessou o Atlântico exclusivamente para acompanhar o desfile de 7 de Setembro, em Brasília. Morando há oito anos em Portugal, para onde se mudou com a mãe para estudar, o brasiliense não vinha ao Brasil havia dois anos. “Este desfile é especial. Precisamos relembrar a importância da independência e afirmar a soberania do Brasil. Nenhum país vai mandar no Brasil, só os brasileiros”, destacou o estudante, que às 6h garantiu um lugar na arquibancada.
A enfermeira Naiyfrana Duarte, 32, e sua mãe, a dona de casa Jafrana Duarte de Souza, 61, vieram de Belém para acompanhar o desfile cívico pela primeira vez. Naiyfrana destacou a relevância do evento para reforçar o sentimento de pertencimento nacional. “É importante mostrar a preparação das forças e também dos serviços que fazem parte da Nação. Isso traz a noção de pertencimento e orgulho pela pátria”, afirmou.
A pernambucana Kilma Porto, 72, veio a Brasília para assistir ao desfile. “Que maravilha ver nossa democracia vencendo”, vibrou. Natural de Olinda, ela comentou que participava de desfiles em sua cidade, porém nunca imaginou que acompanharia a festa em Brasília. Ainda em êxtase assistindo ao desfile, a professora aposentada afirma que se surpreendeu com o engajamento da população.
“Sendo sincera, eu esperava que teria poucas pessoas, mas é muito bonito ver tanta gente vindo apoiar o Brasil”, acrescentou. Pela primeira vez em Brasília, Kilma se surpreendeu pela beleza da capital.” Estou encantada com a cidade, as árvores, as flores e todo esse contexto do desfile da Esplanada é incrível. Estou amando”, ressaltou.
Momentos de emoção
O desfile foi dividido em três eixos temáticos: o Brasil dos Brasileiros, a COP30 e o Brasil do Futuro. O personagem Zé Gotinha, símbolo das campanhas de imunização, foi uma das atrações mais aguardadas. Ele desfilou na alegoria principal do eixo Brasil do Futuro, acompanhado pela Força Nacional de Saúde, com a missão de reforçar a retomada das campanhas de vacinação no país. E a mensagem foi clara: até dezembro, adolescentes de 15 a 19 anos também poderão receber a vacina contra o HPV, além de meninos e meninas de nove a 14 anos.
Outro momento que emocionou a Esplanada foi a entrada da Orquestra Juvenil da Bahia, Neojiba, rede de inclusão social por meio da música. Os jovens músicos foram recebidos sob fortes aplausos e tocaram Aquarela do Brasil, arrancando gritos e palmas do público e da tribuna presidencial. Durante o desfile cívico-militar, parte do público entoou gritos de “sem anistia”. A expressão faz referência à recusa ao pedido de perdão dos envolvidos nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023.
Entre os espectadores, estava Eridani dos Santos, 35, que aproveitou o domingo para levar a família ao desfile. Ele estava acompanhado de sua esposa, Jaqueline dos Santos, 33, e de seus dois filhos: Benardo, 6, e Benício, 3. Para ele, o evento foi bem organizado. “Estou gostando de tudo, a segurança foi ótima, tudo bem organizado”, afirmou. Sua esposa, Jaqueline, acredita que levar as crianças para o desfile é uma boa opção de diversão. “Elas ficam admiradas com tudo. É incrível, um bom passatempo”, disse.
O pequeno Bernardo estava ansioso para ver, mesmo que de longe, o presidente. Infelizmente, não conseguiu, entretanto, se divertiu com a esquadrilha da fumaça. “Vi os aviões e achei muito legal”, contou, enquanto ainda procurava as aeronaves no céu. O pai, feliz pelo momento em família, afirmou que já está traçando planos para outros desfiles. “Lá em casa, começamos a planejar nossa visita com um ano de antecedência. É a segunda vez que o Benardo vem, queremos que isso se torne uma rotina”.
Entre as milhares de pessoas que compareceram ao desfile de 7 de Setembro em Brasília, uma voz emocionada se destacou. O bombeiro hidráulico Cláudio Roberto Rosa, 53, mora no DF há três décadas e decidiu, pela primeira vez, acompanhar a solenidade cívico-militar. “Vim pela pátria, pelo Brasil, não por político”. Para Cláudio, natural de Tocantins, a data foi um momento de reafirmar a soberania nacional e defender o fim da polarização política: “O país é de todos nós, brasileiros”.
O ponto alto do desfile, para ele, foi a passagem dos carros de combate. A emoção tem um motivo pessoal: Cláudio serviu ao Exército em 1989, no 16º Batalhão Logístico, durante o período da Guerra do Golfo. Ele recorda que havia a possibilidade de sua tropa ser enviada ao Oriente Médio. “Nossa sorte é que não mandaram tropas brasileiras. Mas eu estou e sempre estarei preparado para defender meu país”.
Família reunida e tradição
A professora Carla Cravo, 34, veio a Brasília para um casamento e aproveitou a oportunidade para marcar presença, pela primeira vez, no desfile de Dia da Independência. Ela chamou atenção por sua companhia, o pequeno Benjamin, de 11 meses, que permaneceu todo o evento cívico na maior tranquilidade em um canguru, aproveitando a ocasião e encantando quem passava.
“Eu não podia perder essa oportunidade. Vim com ele e está sendo muito tranquilo. Ele gosta de movimento, então, acredito estar se divertindo. Ele não vai lembrar, mas pelo menos vai ficar a lembrança nas fotos, para ele ver que já esteve aqui um dia”, contou. Carla elogiou a organização do desfile. “Não tem aquela multidão espremida, o que poderia atrapalhar a vinda com bebê. Como está seguro, dá para acompanhar tranquilamente”, avaliou.
A biomédica Julenice de França, 52, também aproveitou o feriado para reunir toda a família na celebração — o marido, o sindicalista Mário Lopes, 66; a filha, Ana Júlia de França, 22; as netas Sara, 11 meses, e Luísa de França, 3; e a mãe Carmozima de França, 80. “Eu costumava acompanhar o evento anualmente, mas havia interrompido a tradição. Hoje, voltei. É uma experiência ótima, principalmente para as crianças”, disse a biomédica.
Para Ana Júlia, a ocasião também foi especial. “Foi tranquilo vir com elas, um domingo gostoso, com música e muita atração para ver”, compartilhou. As meninas, que estrearam no desfile este ano, se encantaram com a movimentação. “Elas adoraram os aviões, os carros e os bombeiros. Brincaram bastante, depois ‘apagaram’ de cansaço”, contou Julenice, rindo.
Recepção positiva
De acordo com a Presidência da República, cerca de 45 mil pessoas ocuparam as arquibancadas credenciadas da Esplanada dos Ministérios. Já a Secretaria de Segurança Pública do DF estimou que, somando o público das áreas externas, com tendas e espaços abertos, o número de presentes chegou a, aproximadamente, 80 mil.
O secretário-executivo da pasta, Alexandre Patury, destacou o aumento do público, e atrelou a alguns fatores. “Minha percepção é de que o ‘Vai de Graça’, de transporte gratuito e o aumento significativo da participação de estudantes no desfile podem ter impacto nesse número. A recepção foi bastante positiva, principalmente, entre os pais. O público esteve acima do esperado”, afirmou.
Diante da baixíssima umidade do ar, cuja mínima chegou a 20%, a Companhia de Saneamento Ambiental (Caesb) montou 19 pontos de distribuição de água potável para os espectadores. O posto de comando do Corpo de Bombeiros Militar (CBMDF) informou que foram realizados, ao menos, nove atendimentos de baixa complexidade. Não houve registros de ocorrências policiais durante o evento e se destacou a eficácia das barreiras de revista para garantir a segurança do público, segundo a Polícia Militar do DF (PMDF).
Por Gazeta do DF
Fonte Correio Braziliense
Foto: Maria Eduarda Lavocat