O anúncio de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros exportados para o mercado norte-americano —o chamado “tarifaço” — acende um alerta também no DF, onde parte do agronegócio pode ser afetado, especialmente na agricultura familiar. Em entrevista ao CB.Agro, o secretário de Agricultura, Rafael Bueno, detalha os possíveis impactos da medida, os produtos em risco e como o GDF está se organizando para mapear os efeitos econômicos. A conversa com os jornalistas Roberto Fonseca e Mila Ferreira também aborda os investimentos no setor e o atual cenário da gripe aviária, que levou ao fechamento do Zoológico de Brasília em maio de 2025.
Como o agronegócio da nossa capital pode ser atingido diretamente pelo tarifaço aplicado por Donald Trump?
Nós estamos buscando entender melhor de que maneira ele vai funcionar. O primeiro passo é o mapeamento de quais são os produtos do agro que nós exportamos aos Estados Unidos. Hoje, nós temos a semente de milho branco, que é um produto que a gente exporta — apesar de serem baixos os volumes. Temos também os ovos férteis. Em outros momentos, já tivemos exportações de ovos férteis, ovos galados, que vão virar pintinhos nos Estados Unidos. E ultimamente, estamos com uma negociação muito boa de cooperativas de agricultura familiar para a exportação de mandioca descascada, embalada a vácuo, para o mercado americano. O mercado do Distrito Federal é predominantemente voltado para o Oriente Médio e países asiáticos. Mas, quando fazemos uma análise macro dos Estados Unidos, não apenas em relação à exportação, mas também considerando uma possível retaliação do Brasil por meio de sobretaxas, o impacto recai principalmente sobre os insumos. Os insumos têm um impacto grande na produção agropecuária. Os Estados Unidos têm um grande fornecimento de micronutrientes, potássio e fósforo para a gente, então precisamos estar atentos a essa situação. Dessa forma, estamos formando um grupo para levantamento dos possíveis impactos econômicos ao setor agropecuário do DF. Compondo esse grupo conosco, temos a Secretaria de Agricultura, a Emater, e estamos convidando a Federação de Agricultura e Pecuária do DF, o Instituto de Pesquisa e Estatística e o Banco de Brasília, para que, junto a gente, possamos levar ao governador Ibaneis. Aliás, os potenciais danos à economia gerados pelo tarifaço são uma preocupação do nosso governador.
Há um número estimado de quantos produtores podem ser prejudicados inicialmente e qual o tamanho desse mercado?
Então, hoje nós temos um mercado consolidado. Por exemplo, quando a gente fala em números mais significativos em termos de atingidos, o maior impacto seria na agricultura familiar, em especial, esse novo mercado que nós estamos abrindo. Mas, veja, é um novo mercado que está sendo aberto, não um mercado já consolidado. Então, esse produto hoje entra para o mercado nacional, em especial mercado regional e local, que é a mandioca descascada e embalada a vácuo. Essa abertura do mercado americano representaria uma agregação de valor, o que poderia impulsionar o aumento da área plantada e de produção, à medida que as exportações forem evoluindo. No caso dessa cooperativa específica de produtores de mandioca, seria algo em torno de 300 cooperados.
Esta sexta-feira (25/7) foi o Dia Internacional da Agricultura Familiar, responsável por boa parte da produção do DF. Quantos produtores familiares existem no DF e qual o impacto dessa cultura para a nossa economia?
O DF tem uma peculiaridade. Nós temos aqui um território pequeno e muitas propriedades pequenas, com agricultores familiares. Temos diversas cooperativas, diversas associações — estamos falando de um número que passa de 10 mil agricultores familiares, em propriedades de vários tamanhos, focados, principalmente, na produção de hortaliças, frutas e verduras. Isso é importantíssimo para nós e ajuda muito no abastecimento agroalimentar. Se falarmos de números, no ano passado, o GDF comprou R$ 40 milhões em produtos da agricultura familiar. São produtos comprados das cooperativas, que vão também para alimentação escolar, por meio do Pnae, e compõem a Cesta Verde, um programa da Sedes. Neste ano, estão sendo investidos R$ 55 milhões em compras da agricultura familiar. Tivemos um reforço da compra de produtos lácteos, principalmente voltado para a alimentação escolar. Isso é muito importante, porque acabamos comprando também de uma cadeia — que é importantíssimo o retorno dela ao DF — que é a de produção de leite.
Como está o panorama da gripe aviária hoje?
Nós tivemos dois casos, que foram os casos do zoológicos, graças a Deus, casos isolados, em uma ave migratória, e em uma ave do plantel. Mas nós temos uma suspeita muito grande de contaminação cruzada gerada por uma ave migratória. Esses dois episódios foram muito interessantes do ponto de vista de preparo da equipe, nos colocou em uma situação real de crise e foi bom porque não foi em um rebanho comercial, então, foi em um local isolado, onde realmente conseguimos testar tudo o que estava programado e projetado. Como nós passamos por esses dois casos, todo o grupo formado de contenção de crise, de emergência zoossanitária, está capacitado, treinado e pronto para agir em caso de ocorrência.
Por Gazeta do DF
Fonte Correio Braziliense
Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press