Uma investigação da Polícia Federal revelou um sofisticado esquema criminoso que usava farmácias de fachada para desviar recursos do programa Farmácia Popular, além de lavar dinheiro do tráfico e financiar a compra de cocaína da Bolívia e do Peru. A operação foi detalhada no último domingo (20/7) em reportagem do Fantástico (TV Globo).
Segundo a PF, criminosos operavam em diversas regiões do país utilizando CPFs e endereços de pessoas comuns para simular compras de medicamentos subsidiados. Além disso, empresas eram abertas com CNPJs adquiridos por meio de “laranjas” — pessoas que emprestavam ou vendiam seus dados para a formalização das fraudes.
As investigações começaram após a apreensão de 191 quilos de drogas com um caminhoneiro em Luziânia (GO), que havia saído de Rondônia. Parte da carga foi entregue em Ribeirão Preto (SP), e o restante seria recebido por Clayton Soares da Silva — dono de farmácias em Pernambuco e no Rio Grande do Sul. A PF afirma que os estabelecimentos de Clayton integravam o esquema. Ele e o caminhoneiro foram presos em flagrante. No celular do empresário, foram encontrados documentos e mensagens que revelaram os bastidores da quadrilha.
A partir dessas informações, os agentes chegaram a Fernando Batista da Silva, conhecido como Fernando Piolho, apontado como o chefe da organização criminosa. De acordo com a PF, Fernando utilizava o nome da filha para abrir empresas e ocultar movimentações financeiras suspeitas. Uma dessas empresas, a Construarte, teria recebido mais de R$ 500 mil de pessoas ligadas ao tráfico de drogas.
Ainda segundo os investigadores, Fernando mantinha relações com integrantes do Comando Vermelho e destinava parte do dinheiro do Farmácia Popular para financiar operações do Clã Cisneros — organização criminosa peruana especializada na produção de cocaína. A esposa de um membro do grupo estaria entre os beneficiários do esquema. A defesa de Fernando nega as acusações.
A fraude também chegou à cidade de Águas Lindas de Goiás (GO), onde moradores da comunidade Portal da Barragem descobriram que duas farmácias, que nunca existiram fisicamente, haviam recebido juntas quase R$ 500 mil do programa federal.
Em outro ponto da investigação, a PF identificou farmácias supostamente ativas em terrenos baldios, como um lote coberto de mato onde deveria funcionar um estabelecimento registrado com telefone da Paraíba. Até o momento, a Polícia Federal estima que cerca de R$ 40 milhões tenham sido desviados por meio do programa Farmácia Popular, criado para garantir o acesso da população a medicamentos de forma subsidiada. As apurações seguem em curso, com a possibilidade de novas prisões e apreensões nas próximas fases da operação.
Por Gazeta do DF
Fonte Correio Braziliense
Foto: Roberto Parizotti/CUT