DF é onde mulher mais demora para ter filhos

Censo constata que, no Distrito Federal, a idade média para a maternidade é de 29,3 anos, o que confirma que as brasileiras estão adiando cada vez mais a gravidez. Também aumentou o número daquelas que não pretendem ser mães

As brasileiras estão adiando cada vez mais a maternidade e tendo cada vez menos filhos, tendência que se aprofundou ainda mais na última década. A constatação é do Censo 2022: Fecundidade e Migração, divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No levantamento, o Distrito Federal é a unidade da Federação que apresenta a idade média de fecundidade mais alta do país — 29,3 anos.

O Brasil apresentou uma taxa de fecundidade total (TFT) de 1,55 filho por mulher, número bem abaixo do chamado “nível de reposição”, que é de 2,1 filhos. Segundo o levantamento, aumentou também o número de mulheres que não pretendem passar pela maternidade.

A idade média da fecundidade é um importante indicador, que revela tendências no comportamento reprodutivo. Isso mostra, sobretudo, se as mulheres estão tendo filhos mais cedo ou mais tarde. “A população está envelhecendo. Se está adiando a maternidade por alguns motivos, como pessoais, financeiros e profissionais. Isso está fazendo com que o número de crianças nascidas seja menor do que o que seria o ideal para repor a população. O resultado é que fará com que a população envelheça e pode causar, sim, uma sobrecarga na Previdência Social daqui a alguns anos”, explica a médica ginecologista Beatriz Mantuan, da Clínica Paulista de Medicina Reprodutiva (CPMR), ao Correio.

No Brasil, a idade média de fecundidade em 2000 era de 26,3 anos. Cresceu 0,5 ponto em 2010, passando a 26,8 anos, e aumentou em mais 1,3 anos em 2022, chegando a 28,1 anos. “Considerando a diversidade regional brasileira, o momento e a velocidade dessa queda (da taxa de fecundidade) foram diferenciados em cada grande região do país, tendo o Sul e o Sudeste iniciado o movimento de redução da fecundidade, sobretudo entre os grupos mais ricos e com maior nível de instrução. Posteriormente, as regiões Norte e Nordeste também apresentaram redução na taxa, tendo o Nordeste experimentado uma taxa mais acentuada nos últimos anos, distanciando-se um pouco do Norte. O Centro-Oeste também seguiu esse movimento de queda mais tardia”, salienta a pesquisa. A TFT do Brasil na década de 1960 chegou a ser de 6,28 filhos por mulher.

Nos últimos dois censos demográficos, foram demonstrados o envelhecimento da população com a curva de fecundidade das mulheres no Brasil. Em 2010, o pico da curva da distribuição relativa das taxas específicas de fecundidade estava no grupo etário de 20 a 24 anos — preenchia 26,5% da composição da TFT no ano. Em 2022, esse pico foi para a faixa etária de 25 a 29 anos — 24,4% do peso da fecundidade. O Centro-Oeste, o Nordeste e o Sudeste elevaram o pico da distribuição de taxas de fecundidade, em 2022, para o grupo etário 25-29 anos. A Região Norte, por sua vez, mantém o pico na faixa etária de 20 a 24 anos, ao passo que o Sul sustenta, desde 2010, entre os 25 a 29 anos.

“A gente sabe que a fertilidade vai caindo após os 35 anos. São maiores as chances de haver dificuldades para engravidar, de não conseguir e, no fim, chegar aos 50 anos sem ter atingido a gestação”, adverte a ginecologista.

A porcentagem de mulheres que não têm filhos também aumentou consideravelmente desde 2000, passando de 10,0% para 16,2%, em 2022. Segundo o Censo, pelos números levantados três anos atrás, o Rio de Janeiro era a unidade da Federação com maior porcentagem de mulheres sem filhos (21,0%) e o Tocantins, a menor (11,8%).

O nível de instrução também influencia diretamente na taxa de fecundidade, como mostra o Censo. Mulheres sem instrução ou com ensino fundamental incompleto têm, em média, 2,01 filhos — bem acima da média nacional, 1,55. E tendem a ter filhos mais cedo, com 26,7 anos. No caso das que têm ensino superior completo, a TF é de 1,19 filho por mulher. Elas também tornam-se mães um pouco mais tarde, aos 30,7 anos.

Já o número médio de filhos vivos tidos por mulheres que passaram por todo período reprodutivo — entre os 50 e os 59 anos—, em 2000 era de 4,2. Em 2010, esse número caiu para 3,0, enquanto que, em 2022, desceu a 2,2. O número médio de filhos nascidos vivos por esse grupo de mulheres é um importante indicador de fecundidade acumulada, pois mostra quantos filhos as mulheres efetivamente tiveram ao longo de todo seu período reprodutivo. (Com Agência Estado)

Maternidade em meio à redução da fertilidade no país

A maternidade sempre foi um desejo de Marília Angélica Antunes da Silva, empresária de 37 anos. Mas o caminho até a chegada da pequena Maria Ísis, hoje com cinco meses, foi longo e cheio de tentativas frustradas. E exigiu mudanças drásticas.

“A quantidade de testes de farmácia negativos foi enorme. Cheguei a pensar em desistir”, relata. Foi só depois de buscar ajuda médica que Marília descobriu doenças pré-existentes como hipertensão e diabetes. A recomendação dos médicos foi clara: a cirurgia bariátrica.

Inicialmente resistente à ideia, foi o marido quem mergulhou nos estudos e apresentou a ela os caminhos possíveis. Após seis meses de preparo, com acompanhamento psicológico e nutricional, Marília passou pela cirurgia. Dois anos depois, veio a notícia que ela tanto esperava: estava grávida.

“A bariátrica salvou minha vida e me deu a oportunidade de realizar o sonho de ser mãe”, diz, emocionada.

Mesmo casada há anos, Marília conta que chegou a duvidar do próprio relacionamento por causa das dificuldades para engravidar. “Meu marido é mais novo e eu me perguntava se ele estava perdendo tempo comigo. A pressão que colocamos em nós mesmas é muito cruel”, diz.

A decisão de procurar ajuda médica mudou o rumo da história. Depois de tratamentos e mudanças de estilo de vida, a tão esperada gravidez aconteceu. “Veio como um susto bom. A gente queria, esperava, mas, quando chegou, foi um choque. Um misto de medo e felicidade”, lembra.

A gestação, no entanto, foi marcada por inseguranças e problemas no atendimento médico. Um exame mal-interpretado fez com que ela passasse quase quatro meses em repouso. “O médico disse que, se eu não ficasse deitada, poderia perder minha filha. Só depois descobri que não era bem assim. Mesmo na rede privada, faltou acolhimento. O sistema ainda falha, principalmente com gestantes acima dos 30 anos”, lamenta.

O percurso, no entanto, continuou desafiador. Durante a gestação, um erro médico levou Marília a passar quase quatro meses em repouso. “Foi angustiante. Mesmo na rede privada, falta informação e acolhimento”, observa. O pós-parto também trouxe as dificuldades esperadas: privação de sono, reorganização da rotina e um sentimento de descontrole diante das necessidades da filha. “Quando você tem um bebê que só chora e não consegue se expressar, tudo fica mais difícil”, explica.

Marília integra um perfil que vem crescendo no país: o de mulheres que se tornam mães depois dos 30 anos. Segundo o Censo Demográfico 2022, a maior parte dos nascimentos no Brasil ocorre, hoje, entre mulheres de 25 a 29 anos, com aumento também entre aquelas com mais de 30. A taxa de fecundidade no país, no entanto, caiu para 1,55 filho por mulher, abaixo do nível de reposição populacional.

“Entendo quem opta por não ter filhos. É caro, cansativo e, acima de tudo, preocupante. O mundo hoje assusta”, afirma.

A empresária não planeja ter outro filho. “Nem se me pagassem. Amo minha filha, mas ser mãe exige tudo de você”, frisa. Para ela, o alto custo de vida e a exposição das crianças à internet e às redes sociais são fatores que pesam na decisão de muitas mulheres. Ainda assim, ela espera um futuro melhor para Maria Ísis.

“Quero que ela tenha acesso ao que há de bom, que consiga viver com mais segurança, afeto e menos medo”, afirma.

Apesar das dificuldades, Marília sonha com um futuro mais leve para a filha. “Quero que ela cresça com acesso às coisas boas que eu tive: brincar na rua, ouvir música com a família, viver sem medo. E que tenha força para enfrentar esse mundo, mas também esperança. Porque ser mãe é isso: não só dar à luz, mas lutar por um amanhã melhor”, acredita.

*Alícia Bernardes e Caetano Yamamoto são estagiários sob a supervisão de Fabio Grecchi

Por Gazeta do DF

Fonte Correio Braziliense       

Foto: MINERVINO JUNIOR