Em mais uma carta, presidente da COP30 cobra engajamento

Embaixador Corrêa do Lago apresenta, em Bonn, na Alemanha, uma agenda de ações para tirar do papel os compromissos climáticos assumidos no Acordo de Paris. Temor é que conferência de Belém, em novembro, fracasse

Na nova carta da presidência da COP30, divulgada ontem em Bonn, Alemanha, o Brasil apresentou uma agenda de ações para tirar do papel os compromissos climáticos assumidos no Acordo de Paris, que acaba de completar 10 anos. O documento, que é o quarto da organização brasileira da conferência do clima, reforça que “é hora da ação”, uma vez que há a percepção cada vez maior de que a conferência do clima em Belém, em novembro, apenas reforce o fracasso dos poucos resultados obtidos no encontro de Baku, no Azerbaijão, no ano passado.

O texto apresentado pelo embaixador André Corrêa do Lago — presidente da COP30, que se realiza em Belém, em novembro — inclui 30 ações concretas divididas em seis eixos, como uma estratégia para a implementação do Balanço Global (GST, na sigla em inglês) do acordo. “A presidência convida todas as partes interessadas, governamentais ou não, a trabalhar conjuntamente para a plena implementação do Acordo de Paris e do GST, não apenas nas contribuições nacionalmente determinadas (NDCs, sigla em inglês) dos países e na cooperação internacional, mas, também, em compromissos voluntários no âmbito da Agenda de Ação”, diz um trecho do documento.

Os seis eixos do documento são: transição energética, da indústria e dos transportes; gestão das florestas, oceanos e biodiversidade; transformação da agricultura e dos sistemas alimentares; criação de resiliência para as cidades, infraestruturas e oferta de água; promoção do desenvolvimento humano e social; e promoção e aceleração de capacidades — incluindo financiamento, transferência tecnológica, fortalecimento e desenvolvimento de habilidades.

A carta propõe a criação de uma “NDC Global” — compromisso que cada país assume para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa e combater as mudanças climáticas, como parte do Acordo de Paris. A Agenda de Ação deve “mobilizar todas as partes interessadas para trabalhar ao lado dos governos em prol de causas globais, como interromper e reverter o desmatamento e a degradação florestal até 2030.”

“Que a COP30 seja o momento em que inauguramos uma nova era em que a ação coletiva se torna nossa solução climática mais duradoura. A hora do mutirão pela Agenda de Ação é agora”, reforça Corrêa do Lago.

Para Maria Netto, diretora-executiva do Instituto Clima e Sociedade (ICS), “a Agenda de Ação é um passo oportuno para resultados concretos em Belém, especialmente em seu alinhamento com o GST”. “Agora é o momento de transformar ambição em ação — apresentando e dando escala a soluções concretas de líderes empresariais e de estados e cidades. Os esforços devem ser politicamente reconhecidos e acompanhados de fortes mecanismos de verificação e monitoramento para garantir que realmente promovam os objetivos do Acordo de Paris. O progresso climático real e inclusivo não só é possível como já está acontecendo e deve ser visibilizado”, frisa.

Sociedade

A carta de intenções do Brasil foi saudada por organizações ambientais. No entanto, há um receio de que as discussões em torno da COP30 fiquem restritas a governos e representantes do setor privado, deixando a sociedade civil à margem das decisões. Organizações sociais, povos indígenas, juventudes e comunidades tradicionais cobram a ampliação da participação nas discussões.

“É essencial criar capacidade para que o regime possa abraçar o aprofundamento do envolvimento da sociedade civil e fortalecer os mecanismos de transparência. Precisamos ser capazes de acompanhar o progresso e garantir o cumprimento dos compromissos”, exigiu Tatiana Oliveira, especialista em Políticas Públicas do WWF-Brasil.

Por Gazeta do DF

Fonte Correio Braziliense       

Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil