Risco sobre duas rodas: em menos de 30 dias, quatro motociclistas morreram no DF

No primeiro trimestre de 2025, 19 pessoas morreram em acidentes de moto no DF, segundo o Detran. Projeto de lei que tramita na Câmara Legislativa pretende implantar uma faixa exclusiva ou preferencial para motociclistas nas vias da capital

Somente em abril, pelo menos quatro motociclistas perderam a vida em acidentes nas vias do Distrito Federal. No mais recente, no último domingo, um piloto de 23 anos morreu em uma colisão envolvendo um carro e um ônibus, na BR-070 (leia Memória). De acordo com o Departamento de Trânsito (Detran-DF), no primeiro trimestre de 2025 foram 19 ocorrências fatais envolvendo motociclistas — uma a mais do que no mesmo período do ano passado.

Na comparação entre 2023 e 2024, a quantidade de condutores de motocicleta mortos em acidentes na capital federal passou de 69 para 74, aumento de 7,24%. Presidente da Comissão de Transporte e Mobilidade Urbana da Câmara Legislativa (CTMU/CLDF), o distrital Max Maciel (PSol) classifica o impacto dos sinistros de trânsito no DF como alarmante.

“Especialmente considerando o número elevado de colisões. Isso é reflexo de como temos pensado o tráfego no DF: cada vez mais voltado ao transporte individual, em uma cidade cortada por rodovias de 80 km/h”, observa. “Esse cenário se reflete em diversos fatores que observamos no dia a dia, como ultrapassagens de motociclistas entre corredores e sem a devida atenção ao tráfego”, pontua.

Marcelo Granja, gerente da Escola Pública de Trânsito da Diretoria de Educação de Trânsito do Detran-DF, comenta que, ao trafegar utilizando uma moto, é importante ter atenção redobrada em relação aos pontos cegos de carros, ônibus e caminhões, certificando-se sempre de que os outros motoristas perceberam sua presença (confira mais dicas no quadro).

Vulneráveis

Doutora em transportes, Adriana Modesto ressalta a dualidade existente em relação às motos. “Se, por um lado, elas são um alternativa mais cômoda, por outro, são mais perigosas. Diria tratar-se de um verdadeiro ‘veículo de guerra’, pois, no âmbito da epidemiologia do trânsito, os sinistros envolvendo motocicletas apresentam maior prevalência”, avalia.

A especialista lembra que, além dos motociclistas que usam o veículo para se deslocar, há trabalhadores que têm a moto como instrumento de trabalho. “É o caso de entregadores e motofretistas que, muitas vezes, passam várias horas sobre uma motocicleta, têm jornadas precarizadas e, portanto, acumulam cargas de vulnerabilidade inerentes ao trabalho e ao trânsito”, comenta. 

Pesquisador da Universidade Católica de Brasília (UCB) e especialista em transportes, Artur Morais acrescenta que o motociclista, assim como o pedestre e o ciclista, são os mais vulneráveis no trânsito. “Eles não têm uma estrutura de aço para lhes proteger em caso de acidentes. Então, qualquer colisão, mesmo em baixa velocidade, pode causar danos grandes”, alerta.

Morais pondera, no entanto, que algumas atitudes contribuem para esses acidentes. “Condutores de motos não habilitados, desrespeito à legislação de trânsito — é fácil ver pela cidade o avanço de sinal vermelho por motociclistas — e imprudência em manobras e na velocidade”, lista.

Faixa exclusiva

O Projeto de Lei nº 2.685/2022, de autoria do deputado Fábio Félix (PSol), pretende implantar uma faixa exclusiva ou preferencial para motos nas vias de trânsito do DF. Segundo o distrital, a proposta foi elaborada com o objetivo de melhorar o fluxo do trânsito e, principalmente, aumentar a segurança dos motociclistas.

“Houve um aumento significativo nas colisões envolvendo motociclistas. Diante desse cenário, o projeto surge como uma medida essencial para reduzir os acidentes e proteger a população que utiliza veículos de duas rodas no DF”, observa. O projeto foi aprovado nas comissões de Transporte e Mobilidade Urbana, Assuntos Sociais, e Economia, Orçamento e Finanças. Atualmente, o PL aguarda parecer da Comissão de Constituição e Justiça.

A especialista Adriana Modesto afirma que a iniciativa, em tese, pode ser boa. “Mas é preciso verificar os parâmetros, ou seja, se a prática — em outros locais que têm a faixa exclusiva para motos — teve algum efeito”, afirma.
“Penso que a proposição está fundamentada em resultados e estudos técnicos. Mas, além de regulamentar, é preciso verificar como funcionará essa faixa e que resultados ela trará”, completa Adriana.

O distrital Max Maciel diz que é fundamental, em conjunto com o sistema de saúde, envolver o Detran-DF na ampliação das campanhas de conscientização. “Além disso, quem sabe, reduzir a velocidade das vias, buscando um trânsito mais seguro”, comenta.

Porém, segundo o parlamentar, a saída principal está no investimento em transporte público de massa. “Lembrando que é preciso ter qualidade, para que as pessoas deixem seus veículos em casa”, ressalta. “Um transporte público eficiente, como o metrô, é essencial para transformar essa realidade”, avalia.

Memória

11 de abril — Uma batida entre uma moto e um carro, na BR-080, vitimou um motociclista. O acidente aconteceu por volta das 6h30, no local conhecido como Roda D’água, próximo a Brazlândia. Equipes do Corpo de Bombeiros prestaram atendimento à vítima que, no início do atendimento, já não apresentava sinais vitais;

12 de abril — O subtenente do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal (CBMDF) Jefferson Rodrigues André de Melo, 51 anos, morreu após se envolver em um acidente enquanto pilotava sua moto, na Estrada Parque Taguatinga (EPTG), nas proximidades da entrada do Guará I, no sentido SIA;

13 de abril — Um motociclista de 46 anos morreu em um acidente de trânsito na EPTG, próximo à entrada de Vicente Pires. Segundo informações dos bombeiros, quando o socorro chegou, o homem, localizado caído no canteiro lateral da via, já estava sem vida;

27 de abril — Um motociclista de 23 anos morreu após se envolver em um acidente com um carro e um ônibus. A colisão ocorreu na BR-070, na altura do Condomínio Privê, sentido Águas Lindas, em Ceilândia. Segundo o Corpo de Bombeiros, o piloto apresentava ferimentos graves e teve a morte declarada ainda no local.

Dicas de pilotagem defensiva

Utilize sempre equipamentos de proteção;

Opte por roupas de cores claras ou com faixas refletivas;

Mantenha a motocicleta em boas condições;

Respeite as leis de trânsito, obedecendo à sinalização e aos limites de velocidade;

Em condições de chuva, pista molhada ou baixa visibilidade, reduza a velocidade e aumente a distância em relação aos outros veículos.

Fonte: Detran-DF

Por Arthur de Souza do Correio Braziliense

Foto: Minervino Júnior/CB/D.A.Press / Reprodução Correio Braziliense