Mais de 59 ordens judiciais foram cumpridas entre São Paulo, Goiás e Distrito Federal na operação Nexo Oculto. Nos dois estados e no DF, foram 27 mandados de prisão, 11 deles no DF, e 32 de busca e apreensão. A operação tem como objetivo desarticular uma organização criminosa estruturada, responsável por aplicar fraudes eletrônicas, nas quais os golpistas se passam por funcionários de bancos informando sobre movimentações suspeitas nas contas das vítimas. O grupo também é investigado por lavar grandes quantias em dinheiro.
Deflagrada ontem, a operação foi realizada pelas polícias civis do Distrito Federal (PCDF) e de Goiás (PCGO), por meio das respectivas Delegacias de Repressão a Crimes Cibernéticos (DRCC/PCDF e DERCC/PCGO).
Investigação
A apuração policial se iniciou após uma empresária ter R$ 449.998 subtraídos de sua conta bancária por meio de seis transações fraudulentas via Transferência Eletrônica Disponível (TED). O autor da fraude utilizou a técnica de “spoofing telefônico”, falsificando o número de contato que aparecia para a vítima, fazendo com que o identificador de chamadas exibisse o nome “Banco do Brasil”. Essa tática é popularmente chamada de ‘golpe de falsa central bancária’. Isso, aliado à técnica de engenharia social e ao uso do programa de acesso remoto AnyDesk, permitiu que o criminoso acessasse o computador da vítima e executasse as transações bancárias.
O golpe financeiro foi aplicado a partir do número (061) 4004-0001 — falsificado por meio de tecnologia VoIP (Voice over Internet Protocol, conhecido em português como Voz sobre IP), que permite que ligações sejam feitas por meio da internet, para simular contato oficial da instituição bancária. Em seguida, os valores desviados foram rapidamente redistribuídos para contas de pessoas físicas e jurídicas.
Movimentações bancárias superiores a R$ 3,3 milhões em apenas três meses, muitas vezes com valores de crédito e débito equivalentes, foram reveladas durante as diligências. Foi identificado o fracionamento deliberado de valores e a pulverização rápida de quantias entre contas vinculadas a familiares, empresas recém-criadas e contas sem histórico de movimentação anterior, compras de escrituras públicas em valores superiores a 100% da avaliação fiscal, compras com dinheiro em espécie superior a R$ 30.000,00 — todos indícios clássicos de lavagem de capitais.
A organização criminosa possuía ramificações em cidades de São Paulo, Goiás e do Distrito Federal, onde os mandados foram cumpridos. Os investigados utilizavam empresas de fachada, testavam contas bancárias com valores simbólicos antes de aplicar o golpe e movimentavam altas quantias para dificultar o rastreamento.
As medidas foram respaldadas judicialmente com base na Lei de Lavagem de Dinheiro, Lei das Organizações Criminosas e Código Penal, além de seguirem os parâmetros de monitoramento de transações anormais previstos pela Carta Circular nº 4.001/2020 do Banco Central.
O delegado João Guilherme Carvalho, da DRCC/PCDF, afirma que a operação em conjunto entre as instituições brasilienses e goianas tem como objetivo o combate ao chamado ‘golpe da falsa central bancária’. Ele explica que essas pessoas responderão pelos crimes de estelionato qualificado pela fraude eletrônica, organização criminosa e lavagem de dinheiro, cujas penas somadas podem chegar a 32 anos de prisão.
Alerta
“Essas operações continuarão e aqui fica um alerta à população de que, em regra, o banco não liga para as pessoas noticiando movimentações suspeitas. Caso isso ocorra, desconfie, desligue o telefone e procure outro aparelho mais próximo para fazer o contato com o gerente do seu banco”, acrescenta o delegado.
As duas vertentes da Polícia Civil afirmam que manterão as investigações em prosseguimento, buscando a completa desarticulação da rede criminosa e identificação de novos envolvidos.
Estagiário sob supervisão de Márcia Machado
Por Darcianne Diogo e Henrique Sucena do Correio Braziliense
Foto: DRCC/Divulgação / Reprodução Correio Braziliense