‘Memórias do Piantella’: livro lembra histórias ocorridas no restaurante

A história de Brasília e da política brasileira passam pelo Piantella, icônico restaurante da capital que serviu de cenário para almoços e jantares onde diversos episódios importantes foram desenhados. Boa parte dessas histórias estão no livro Memórias do Piantella, que está sendo escrito pelo jornalista e escritor Fernando de Morais. Para relembrar os 40 anos do local e comentar sobre a obra que está em produção, o fundador, Marco Aurélio Piantella, e a jornalista Poliana de Morais foram os convidados do Podcast do Correio, com os jornalistas Carlos Alexandre de Souza e Adriana Bernardes. 

“O Piantella faz parte da história da redemocratização do Brasil, assim como esteve na história da capital da nossa querida Brasília. Muitas vezes, as pessoas vinham para Brasília e a primeira coisa que faziam ao desembarcar era ir ao Piantella. Eles costumavam falar que o restaurante é o lugar em que se senta e se toma conhecimento do que está acontecendo na corte”, disse Marco Antônio.

Responsável pelas entrevistas que irão compor Memórias do Piantella, Poliana de Morais sente-se honrada em participar da produção da obra. “Está sendo bem desafiador e muito interessante. Vimos a história da política somente na escola e nos livros. Depois desse tempo todo conversando com várias pessoas que iam ao restaurante, vejo o Piantella como um lugar que mostrava os bastidores da política. Tem muita história que a gente não vê na escola que vai estar no livro”, afirma. 

Até o momento, foram realizadas mais de 250 entrevistas com políticos, clientes, funcionários e ex-funcionários. Poliana adianta que o livro trará muitas memórias importantes para a nossa capital. “Alguns políticos falam que o restaurante era uma extensão do Congresso. Durante a Constituinte, foi montado uma unidade dentro do Senado, então, é muito interessante saber a força que o Piantella tinha dentro da política”, destaca a jornalista.

Conversas históricas

Como um ponto de encontro histórico de figuras da política nacional e local, o restaurante presenciou vários momentos da política brasileira. Uma das conversas mais marcantes, segundo o fundador do restaurante, foi o encontro entre Ulysses Guimarães (1916-1992) e Tancredo Neves (1910-1985). “Os dois faziam planos para o Brasil. Durante o movimento Diretas Já, Tancredo disse para o Ulysses que, se fosse voto direto, quem concorreria seria Ulysses; já se fosse pelo voto indireto, o próprio Tancredo disputaria”, conta Piantella.

Por receber pessoas dos mais amplos espectros políticos, o Piantella se consolidou com muito respeito às ideias divergentes. Para Marco Aurélio, não se faz mais política como antigamente. “Pela velocidade de comunicação das redes sociais, a política perdeu muito no diálogo, da conversa olho no olho. Hoje, a conversa é muito fria, muito impessoal, até os relacionamentos amorosos estão sendo feitos pelo celular”, lamenta. 

Ele também acredita que o espaço democrático representado pelo restaurante seria prejudicado. “Acredito que, hoje em dia, o Piantella não teria espaço, as pessoas não costumam dialogar. Hoje acontece de você ver uma pessoa no restaurante, fotografar, já inventar uma história e jogar nas redes sociais”, acrescenta. 

Evolução gastronômica

Criado em 1974, o restaurante também presenciou a evolução no campo gastronômico. Marco explica que o Brasil só foi conhecer produtos de qualidade após a abertura no campo econômico. “A gastronomia tem dois momentos: um, antes de Fernando Collor, e outro, depois do Collor. Antes da abertura do Brasil, você não tinha um azeite de qualidade, não tinha um vinho de qualidade, não tinha creme de leite fresco. Até para fazer um risoto a gente usava arroz comum. A grandeza da gastronomia deve-se ao Fernando Collor”, enfatiza.

Marco também comentou sobre as regras fundamentais que deveriam ser seguidas no restaurante. “A primeira é que o cliente é a pessoa mais importante para o Piantella, independentemente de quem seja. Naquela época, as mulheres que iam sozinhas aos restaurantes eram discriminadas. Uma das coisas que fez o Piantella ser o que foi era isto: respeito ao cliente, respeito às mulheres”, completa. 

*Estagiário sob a supervisão de Patrick Selvatti

Por Luiz Fellipe Alves do Correio Braziliense

Foto: Bruna Gaston/CB/D.A Press / Reprodução Correio Braziliense