Todos os dias, Francisco de Paulo Lira acorda às 4h30 da madrugada e retira seu carro da garagem de casa, localizada na Ceilândia Sul, para mais um longo expediente como taxista no Ponto do Sudoeste, na 302/304. Pelas 13 horas seguintes, o taxista de 67 anos, percorre toda a capital, de Norte a Sul, na companhia de passageiros. Tem sido assim nos últimos 47 anos e, se depender dele, será dessa forma até que seja “chamado por Deus”.
Mesmo com a concorrência dos aplicativos nos últimos anos, outros 3.282 taxistas, com autorizações vigentes pela Secretaria de Transporte e Mobilidade do DF (Semob), continuam a ter uma rotina semelhante a de seu Francisco de Paulo nacapital do país.
Para ele, a profissão é como um remédio. “Comecei minha trajetória em 1978, quando deixei a Aeronáutica. Essa é uma coisa que faço com o maior prazer do mundo. O táxi não é um trabalho, mas um divertimento, uma terapia. Na pandemia, encostei meu carro na garagem de casa e fiquei sete meses parado, logo comecei a ter depressão, só melhorei após voltar ao serviço”, lembrou.
Paulo, como é conhecido, ressalta que, para além de ser o condutor do carro, é ouvinte, psicólogo, e até um faz-tudo. “Um dia, há muitos anos, no Setor Hospitalar Sul, busquei uma senhora que entrou chorando dentro do carro. Quando perguntei o que tinha acontecido, ela disse que havia recebido uma notícia triste, para a qual não estava preparada: ‘O médico me contou que estou com câncer, mas nem me preparou para isso, basicamente, falou que vou morrer’. Eu conversei com ela, aconselhei, expliquei que melhoraria com o tratamento. E assim, ela se consolou um pouco”, disse. Ele recorda com humor que uma vez foi acionado até para resolver o golpe que uma cliente idosa havia levado.
Vivências
Em 1977, quando William José de Sousa, 67, tinha alugado um Fusca azul para fazer suas primeiras viagens como taxista, mal sabia que sua história seria marcada pela emoção das vivências de outros. Em um dia comum, recebeu uma passageira grávida no banco de trás do automóvel e, antes que pudesse chegar ao hospital, ouviu o choro do bebê que acabara de nascer dentro do Fusquinha. “A deixei no hospital e ela foi bem tratada pela emergência, essa é uma das que me marcou”, disse.
Hoje, de carro novo, a rotina é menos surpreendente no Ponto de Táxi do Sudoeste, na 302/304. Segundo ele, apenas as pessoas mais velhas, comumente clientes de longa data, continuam a usar o serviço de táxi. “Agora, as viagens são mais para levar ao banco, ao supermercado, ao hospital, até porque a gente ajuda com os pesos e sacolas e, geralmente, os motoristas de aplicativo não fazem isso”, explicou.
Passageiros
O Núcleo de Apoio aos Taxistas do Aeroporto Internacional de Brasília — Presidente Juscelino Kubitschek tornou-se a segunda casa de Edival Pereira, 65, morador do Núcleo Bandeirante, conhecido pelos colegas de trabalho como Pereira. Durante os últimos 29 anos, Pereira dormiu inúmeras vezes dentro do carro à espera de passageiros no aeroporto. Como sequela, ficou com um problema de saúde na coluna. Ainda assim, a necessidade faz com que continue pernoitando no espaço reservado aos motoristas.
Dentre as mais variadas histórias que coleciona, para além dos perrengues, a lista robusta de passageiros ilustres que transportou surpreende. “Esses dias, levei o Nelson Piquet, mas pessoas públicas não gostam de ser importunadas, então, no momento em que ele entrou no carro, eu sabia quem era ele, mas, claro, não disse nada. Ao longo da viagem, um carro estava me atrapalhando e eu disse ‘saia da frente, Barrichelo!’, então ele achou engraçado e perguntou se eu não estava o reconhecendo, eu expliquei que sim, mas que respeito o espaço”, contou.
Além do ex-automobilista, Pereira levou Malu Mader, Celso Russomano, Ivete Sangalo e, recentemente, o ex-jogador de futebol e político Romário. “Consigo listar os artistas, mas, quanto aos políticos, a gente perde a conta.” O taxista destacou que, apesar da empolgação em alguns casos, comporta-se como se levasse um passageiro qualquer, tratando com respeito e educação.
Orgulho
No Ponto de Apoio aos Taxistas, a paisagem é, majoritariamente, tomada por homens. As mulheres que trabalham no local costumam atuar em outras frentes, como nos trailers que vendem comida. Mas Maria José da Silva, 65, mais conhecida como Zezé, é uma motorista superconhecida na área. Trabalha como motorista há 16 anos, quando herdou a permissão do seu, até então, esposo. Hoje, tem orgulho do que faz.
Apesar disso, lamenta que não é fácil ser mulher num setor praticamente dominado por homens. “Aqui, a gente tem que se respeitar para que os outros nos respeitem, porque é uma queda de braço dura, mas eu sou muito respeitada pelos meus colegas e devolvo com o mesmo caminho. Mesmo assim, para ser mulher nessa profissão, tem que ter muita coragem. É verdadeiramente uma boa queda de braço”, argumentou.
Para ela, a melhor parte é ter um expediente dinâmico, jamais tomado pela rotina. “Tenho um patrão diferente a cada hora, escuto muitas histórias, somos quase psicólogos, porque damos conselhos e somos bons ouvintes. É realmente uma experiência ímpar”, declarou.
Perguntada sobre uma situação específica que a tenha marcado ao longo de quase duas décadas comandando o volante, disse não se lembrar de algo particular, mas que todos os dias são tomados por inúmeras situações curiosas. “As coisas acontecem, a gente ri, mas é apenas mais um passageiro, no próximo, temos novas situações. São tantas histórias que daria um bom livro”, brincou.
Como tornar-se um taxista
A Semob informa que, atualmente, a forma de ingresso no serviço de táxi ocorre por meio de transferência de autorização. No entanto, com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 5337, o artigo 16 da Lei nº 5.323/2014 foi declarado inconstitucional. Isso significa que, a partir de 10 de abril de 2025, não será mais possível realizar transferências de autorizações.
– O processo de transferência atualmente segue um passo a passo detalhado:
– O autorizatário interessado em transferir deve preencher um requerimento de transferência;
– O interessado deve cumprir todos os requisitos do artigo 8º da Lei nº 5.323/2014;
– A autorização passa por análise de impedimentos, verificando a existência de multas, advertências, suspensões ou cassações;
– Se não houver impeditivos, o interessado deve pagar a taxa de transferência de R$ 1.086,00;
– O veículo deve atender os requisitos do artigo 25 ou 25-A da Lei nº 5.323/2014;
– O interessado deve realizar a mudança da categoria do veículo para “Aluguel” no Detran;
– O veículo deve passar pela instalação e aferição do taxímetro no Inmetro;
Após cumprir todas essas etapas, a autorização é oficialmente transferida ao novo titular.
Com a impossibilidade de novas transferências a partir de abril de 2025, a Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob) está em tratativas para a licitação de 118 autorizações remanescentes, oriundas de cassações por não recadastramento e renúncias ao direito de exploração do serviço de táxi.
Como tornar-se um taxista?
A Semob informa que, atualmente, a forma de ingresso no serviço de táxi ocorre por meio de transferência de autorização. No entanto, com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 5337, o artigo 16 da Lei nº 5.323/2014 foi declarado inconstitucional. Isso significa que, a partir de 10 de abril de 2025, não será mais possível realizar transferências de autorizações.
– O processo de transferência atualmente segue um passo a passo detalhado:
– O autorizatário interessado em transferir deve preencher um requerimento de transferência.
– O interessado deve cumprir todos os requisitos do artigo 8º da Lei nº 5.323/2014.
– A autorização passa por análise de impedimentos, verificando a existência de multas, advertências, suspensões ou cassações.
– Se não houver impeditivos, o interessado deve pagar a taxa de transferência de R$ 1.086,00.
– O veículo deve atender os requisitos do artigo 25 ou 25-A da Lei nº 5.323/2014.
– O interessado deve realizar a mudança da categoria do veículo para “Aluguel” no Detran.
– O veículo deve passar pela instalação e aferição do taxímetro no Inmetro.
Após cumprir todas essas etapas, a autorização é oficialmente transferida ao novo titular.
Com a impossibilidade de novas transferências a partir de abril de 2025, a Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob) está em tratativas para a licitação de 118 autorizações remanescentes, oriundas de cassações por não recadastramento e renúncias ao direito de exploração do serviço de táxi.
Por Letícia Guedes do Correio Braziliense
Foto: Letícia Guedes/CB/D.A Press / Reprodução Correio Braziliense