O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), e o governador em exercício de Goiás, Daniel Vilela (MDB), firmaram um acordo para a criação de um consórcio, que visa garantir subsídios às passagens de ônibus entre as duas regiões e, com isso, reduzir as tarifas. A decisão foi tomada após a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) anunciar o aumento das tarifas nas linhas que ligam a capital aos municípios goianos.
O pedido deve ser encaminhado nesta sexta-feira (1/2) à ANTT, para que o aumento marcado para domingo seja suspenso até a efetivação do consórcio. A Agência informou que apoia a iniciativa, mas, até “a concepção total do consórcio”, o aumento irá vigorar conforme o previsto, a partir da zero hora de 23 de fevereiro. A medida impacta 175 mil pessoas que utilizam diariamente as mais de 400 linhas que conectam o Entorno ao DF.
O encontro dos governadores ocorreu nesta quinta-feira (20/2), no Palácio do Buriti. O convênio interfederativo estabelece que o DF e Goiás pagarão um subsídio de R$ 67 milhões, cada, por ano. Com esse aporte, espera-se que a passagem média fique em torno de R$ 8. Pela proposta, o governo federal entraria com o mesmo valor, mas para infraestrutura — renovação de frota, novas plataformas e reforma de terminais.
Ibaneis Rocha afirmou que deseja solucionar de forma definitiva a questão das tarifas do Entorno, que tem causado transtornos à população. “O alto custo das passagens dificulta a contratação de trabalhadores do Entorno por empresas do DF. Agora, precisamos construir os instrumentos jurídicos, definir a data da assinatura e garantir esse benefício à população”, declarou.
“Solicitaremos a não aplicação imediata do reajuste até que tenhamos os instrumentos legais que permitam a alocação orçamentária para o pagamento do subsídio. Espero que isso ocorra o mais rápido possível”, completou Ibaneis.
O governador em exercício de Goiás, Daniel Vilela, ressaltou que, além da redução tarifária, o novo consórcio prevê investimentos em infraestrutura. “O objetivo é garantir novas frotas, construir novas plataformas e reformar terminais para oferecer um transporte de qualidade à população, que é fundamental para a economia de Brasília. Queremos operacionalizar essa medida o mais rápido possível”, afirmou. Ele também defendeu que o reajuste não seja implementado antes que todas as decisões operacionais sejam tomadas para minimizar impactos na vida da população.
O prefeito de Valparaíso, Marcus Vinicius, ressaltou que o projeto representa um avanço para a população do Entorno. “Nossos moradores sofrem diariamente com um transporte caro e de baixa qualidade. Estamos confiantes de que essa parceria trará melhorias significativas”, afirmou.
Apoio
A ANTT afirmou que “reconhece a relevância social e econômica da medida, que busca garantir maior acessibilidade ao transporte público para milhares de passageiros que utilizam essas linhas diariamente”.
Em nota, o órgão disse ser essencial a formalização do consórcio interfederativo para delegar a gestão do serviço aos entes locais. “Essa etapa permitirá a implementação do subsídio tarifário e, consequentemente, a efetiva redução dos preços das passagens, promovendo melhorias na qualidade e na sustentabilidade do transporte na região”, acrescentou, colocando-se à disposição para colaborar com a tramitação e a implementação do novo modelo.
A Associação Nacional das Empresas de Transporte Rodoviário Interestadual de Passageiros (Anatrip) também se manifestou. Em nota, destacou que o reajuste determinado reflete a atualização anual determinada pela ANTT, com base na variação dos custos operacionais.
“A Anatrip reforça que o aumento das tarifas não é do interesse do setor. No entanto, alerta para a necessidade urgente de maior atenção do governo às melhorias no transporte, especialmente nas regiões do Entorno do DF, onde a demanda por um serviço de qualidade é crescente”, enfatizou. “A falta de subsídios e incentivos governamentais compromete as condições operacionais e dificulta a renovação da frota, a ampliação das linhas e a melhoria da infraestrutura. Sem esse suporte, os custos inevitavelmente recaem sobre os passageiros, limitando o acesso a um transporte mais eficiente e seguro”, completou.
O que dizem os passageiros
Enquanto isso, os passageiros torcem para que o consórcio dê certo e que o reajuste seja suspenso. Além do valor, eles reclamam da qualidade do serviço.
Manoel Casimiro, 44 anos, mora no Parque Estrela Dalva, em Santo Antônio Descoberto. Ele tira dinheiro do próprio bolso para pegar dois ônibus diariamente e trabalhar como almoxarife, em um hotel, no Plano Piloto. Manoel descreve como o aumento da tarifa desfavorece a situação dos trabalhadores. “Se não impedirem, isso irá impactar diretamente na vida de todos. A passagem já está muito alta, se aumentasse, as empresas iriam demitir mais gente por causa do valor, pois teriam que destinar mais dinheiro no auxílio transporte, iam preferir contratar alguém que mora mais perto”, analisa.
Com o consórcio, o almoxarife espera melhorias na qualidade do serviço. “Esse consórcio tinha que melhorar com urgência a qualidade dos ônibus, porque eles quebram direto, é péssimo. Várias vezes, já me ocorreu de quebrar no meio do caminho. Tem vezes que você pega três ônibus diferentes e eles quebram do mesmo jeito. Já cheguei atrasado no serviço, mesmo saindo às 4h30 de casa, porque o ônibus que eu peguei quebrou.”
Francinei Lopes, 54, morador no Parque Araguari, na Cidade Ocidental, espera o impedimento do aumento da tarifa, mas não acredita em melhorias. “Se eles conseguirem segurar a tarifa, já é um ganho para a gente, porque a melhoria, acho que não vai existir, tem muita coisa para resolverem. Os assentos tinham que ser mais novos, tinha que aumentar a quantidade de ônibus e melhorar a limpeza. A gente viaja duas horas de transporte, muitas vezes lotado, você não consegue nem mexer o pé, necessitamos de mais linhas para o Entorno”, afirmou.
Moradora do Novo Gama, Mikaelly Alves, 21 anos, relata o sofrimento de pegar ônibus lotado no calor e ressalta que o valor pago é muito caro. “O preço não condiz nem um pouco com a qualidade. O BRT de Santa Maria mesmo, além de ser mais barato do que a passagem, o ar-condicionado de lá é perfeito. Esse ônibus do Entorno custa R$ 10 e não tem nada. Nós vamos torrando nesse calor, de tarde, é impossível pegar este transporte”, reclamou.
*Estagiário sob a supervisão de Malcia Afonso
Por Mariana Saraiva e Caio Ramos do Correio Braziliense
Foto: Caio Ramos / Reprodução Correio Braziliense