O ingresso no serviço militar ocorre de duas formas: alistamento, aos 18 anos, ou concurso. No primeiro caso, tanto para homens quanto para mulheres, a duração é de um ano, com possibilidade de prorrogação por até sete, desde que não ultrapasse 96 meses (oito anos). Com isso, os selecionados não fazem parte do quadro efetivo das Forças Armadas. O segundo caso é destinado aos que buscam seguir carreira militar, realizando cursos de formação em escolas preparatórias das instituições. Para entrar na Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx), por exemplo, a idade mínima no ano da matrícula é 17 anos, e a máxima, 22.
Testes adequados
De acordo com a Diretoria do Serviço Militar, responsável pelo alistamento feminino, as mulheres, após incorporadas, receberão “o mesmo treinamento dos homens, desempenhando funções idênticas às deles”. O setor não detalhou como será a adaptação às particularidades femininas, considerando, por exemplo, o período menstrual, mas ressaltou que, “sempre que necessário, como os homens, (elas) terão acompanhamento médico.”
Para a psicóloga e professora universitária Aldenira Cavalcante, é importante levar essas condições em consideração para que as mulheres não fiquem em desvantagem em relação aos homens, podendo se desenvolver tanto quanto eles. “Tradicionalmente, as mulheres militares são submetidas a treinamentos voltados para medir as capacidades masculinas, então é preciso valorizar atribuições físicas femininas nas quais elas se sobreponham”, defende.
Para a especialista, “as mulheres podem atingir níveis físicos semelhantes aos dos homens de mesma estatura, desde que submetidas aos testes adequados”. Isso também contribui para o combate ao preconceito, mostrando que elas são capazes de atuar nas Forças Armadas e crescer profissionalmente no serviço militar da mesma forma que os homens.
A cientista social Ana Penido, autora do livro Como se faz um militar? (editora Unesp, 256 páginas), complementa que a questão da força física, muitas vezes, é utilizada para desestimular as mulheres a seguir em carreira. “Existe um discurso de que elas não são fortes o suficiente, mas, na verdade, essa lógica da força física é muito relativa, depende do treinamento, do preparo físico e do próprio biotipo”. Penido também entende que as exigências da guerra, hoje, “são muito mais ligadas à tecnologia do que, necessariamente, à capacidade de carregar uma mochila por muitos quilômetros debaixo do sol.”
Em quaisquer casos de violência por parte de integrantes das Forças Armadas, como assédio moral, sexual e importunação, no exercício da função ou em local sob a administração militar, mulheres, civis ou militares, devem procurar a Ouvidoria das Mulheres do Ministério Público Militar (MPM), por meio do site www.mpm.mp.br/ouvidoria-das-mulheres. Também será disponibilizado o telefone das seções de assistência social das regiões militares ou guarnições para recebimento de denúncias de assédio.
Contribuições
Além da maior participação feminina no mercado de trabalho e a chance de aprendizagem profissional no serviço militar, as voluntárias terão acesso a uma prática essencial à saúde: atividade física. Outro benefício pode ser o desenvolvimento de habilidades, como paciência, liderança e disciplina, aprendendo a lidar e gerir o estresse.
“É possível identificar situações e posições nas quais as mulheres são submetidas a altos níveis de tensão e lidam bem com a situação”, diz Aldenira. Para ela, o alistamento feminino também pode contribuir positivamente com a renda familiar e pavimentar caminhos para o empoderamento feminino.
Igualdade de gênero
Geovana Monteiro Gonçalves, 17 anos, alistou-se para o Exército brasileiro assim que as inscrições foram abertas. Ela conta que essa vontade veio de sua família, na qual há várias pessoas do meio militar. Logo, a convivência fez com que ela se apaixonasse e criasse o desejo de seguir o mesmo caminho. Para ela, poder se alistar mostra que “o lugar das mulheres é onde elas quiserem.”
A estudante, que sonha em seguir carreira como combatente, acredita que ter a oportunidade de trabalhar na área desde cedo é um passo em direção ao seu objetivo: “Sei que não será um trajeto fácil, mas minhas expectativas são de que, com esforço e dedicação, dará tudo certo.”
A psicóloga Aldenira acredita que o alistamento feminino voluntário é um avanço para a igualdade de gênero, uma vez que trabalhos ligados à força costumam ser associados aos homens e que, por outro lado, as mulheres são constantemente identificadas em papéis de cuidado. Como a medida é novidade, a especialista acredita que o processo terá ajustes com o tempo, visando ao aperfeiçoamento.
“Pensando que nossa maioria feminina são chefes de família, trabalham em subempregos, principalmente, nessa faixa etária após o término do ensino médio, é um marco histórico. A mulher se destacará como executora da força e da eficiência, antes atribuída apenas aos homens. E sabemos que a representatividade feminina pode tornar os espaços mais democráticos e mais humanizados”, pontua Aldenira.
Na visão da autora Ana Penido, porém, a inclusão das mulheres no alistamento não necessariamente leva à igualdade, considerando o caráter temporário do serviço. “A participação feminina na defesa é fundamental, mas a questão é onde elas poderão entrar. É preciso que haja possibilidades de ascensão na carreira até o topo, sem obstáculos”, frisa.
Detalhes da seleção
Ao todo, serão 1.465 vagas em 28 municípios e no Distrito Federal para mulheres que completam 18 anos em 2025, nos postos de soldado (Exército e Aeronáutica) ou marinheiro-recruta (Marinha). As candidatas poderão escolher a instituição que desejam integrar, observando a necessidade das organizações. As inscrições podem ser feitas pelo site (https://alistamento.eb.mil.br/) ou nas juntas militares.
O ingresso será no primeiro ou no segundo semestres de 2026, começando em março e agosto, respectivamente. Entre as localidades, estão disponíveis Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Pará, Ceará, Amazonas, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina. Em Goiás, estão incluídos os municípios de Águas Lindas, Cidade Ocidental, Formosa, Luziânia, Novo Gama, Planaltina, Santo Antônio do Descoberto e Valparaíso.
Após o alistamento, as candidatas passarão pela seleção geral, na qual serão feitos exames médicos e físicos, testes de conhecimentos gerais e psicológicos, e entrevista. Se consideradas aptas nessa etapa, seguem para a seleção específica na instituição que irão integrar. Depois de todas as fases, ocorre a inclusão oficial nas Forças Armadas.
As selecionadas podem desistir do processo até o ato de incorporação, a partir do qual o serviço militar feminino se tornará obrigatório. Assim como para os soldados homens, a remuneração será de um salário mínimo, além de benefícios, como alimentação e alojamento. Atualmente, há 37 mil mulheres nas Forças Armadas, representando apenas 10% do efetivo. Com a medida, a expectativa do Ministério da Defesa é de que 20% das vagas totais sejam destinadas a elas.
Confira o resumo
Inscrições: até 30 de junho pelo site https://alistamento.eb.mil.br/ ou nas juntas militares.
Duração: 12 meses, com início em 2026. Prorrogável por até sete anos.
Cargos: soldado (Exército e Aeronáutica) ou marinheiro-recruta (Marinha).
Remuneração: as voluntárias recebem um salário mínimo, além de benefícios, como alimentação e alojamento.
Perfil: mulheres que completam 18 anos em 2025, com estatura mínima de 1,55m.
Etapas:
» Alistamento: inscrição;
» Seleção geral: exames médicos e físicos, testes de conhecimentos gerais e psicológicos, entrevista;
» Seleção complementar: na organização militar em que foi designada;
» Incorporação: convocação para integrar as Forças Armadas.
*Estagiária sob a supervisão de Marina Rodrigues
Veja o resumo
Inscrições
Até 30 de junho pelo site https://alistamento.eb.mil.br/ ou nas juntas militares
Duração
12 meses, com início em 2026. Prorrogável por até sete anos.
Cargos
Soldado (Exército e Aeronáutica) ou marinheiro-recruta (Marinha).
Remuneração
As voluntárias recebem um salário mínimo, além de benefícios, como alimentação e alojamento.
Perfil
Mulheres que completam
18 anos em 2025, com
estatura mínima de 1,55m
Etapas
» Alistamento: inscrição
» Seleção geral: exames médicos e físicos, testes de conhecimentos gerais e psicológicos, entrevista
» Seleção complementar: na organização militar em que foi designada
» Incorporação: convocação para integrar as Forças Armadas
Por Júlia Giusti do Correio Braziliense
Foto: Caio Gomez / Reprodução Correio Braziliense