Mais de 3,7 mil alunos abandonaram o ensino médio na rede pública do Distrito Federal no ano passado. O número é 10,25% maior do que a quantidade de estudantes que largaram os estudos em 2022. Para o GDF, dificuldades financeiras e necessidade de trabalhar para ajudar em casa são alguns dos principais desafios enfrentados pelos jovens.
A situação desses alunos é classificada como “afastados por abandono” no Censo Escolar. O abandono escolar é caracterizado quando o estudante tem um número de faltas consecutivas superior a 25% e não retorna à unidade escolar até o final do ano/semestre letivo.
Em 2023, a etapa que mais registrou abandono foi o 2º ano do ensino médio no período matutino. Foram 921 alunos que largaram os estudos. Já em 2022, a rede pública perdeu 3,4 mil estudantes do ensino médio como um todo. Uma delas foi Camila Caroline Lourenço de Oliveira. Hoje com 15 anos, ela conta que teve que abandonar os estudos devido a uma gravidez.
Ex-aluna do Centro de Ensino Fundamental 3 da Estrutural, Camila afirma que tem vontade de voltar a estudar. Porém, morando sozinha com o filho, ainda não conseguiu.
A Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEE-DF) afirma que o índice de abandono escolar é motivo de “grande preocupação”.
“Diante desse cenário, a pasta está atenta às possíveis causas e implementando uma série de medidas estratégicas para reverter essa situação e garantir que todos os jovens tenham acesso a uma educação de qualidade”, diz a secretaria, em nota.
Dificuldades financeiras e a necessidade de trabalhar para ajudar em casa são alguns dos principais desafios enfrentados pelos estudantes, segundo a pasta. Outro fator que o GDF acredita ter impactado no índice de abandono escolar foi a pandemia de Covid-19. “O período de isolamento social e as aulas remotas impactaram significativamente na rotina escolar, gerando dificuldades de aprendizagem, frustração escolar e desmotivação, levando alguns estudantes a abandonarem a escola”
“Aliado a esses fatores, em alguns casos, a falta de identificação com a escola e com os conteúdos contribui para que os jovens busquem outras atividades fora do contexto escolar”, completa o texto.
Busca ativa
Para amenizar o abandono escolar, a SEE-DF, destaca a Busca Ativa Escolar. Junto a essa medida, há os procedimentos para o acompanhamento de frequência escolar da rede pública de ensino, tendo como objetivos identificar estudantes infrequentes; identificar as causas da infrequência; monitorar os encaminhamentos realizados pelas Unidades Escolares (UEs) e pelas Coordenações Regionais de Ensino (CREs) e reduzir as taxas de infrequência e, por conseguinte, de abandono e de evasão escolar.
Ademais, cumpre salientar a realização, nesse ano letivo [2023], de outras formas de busca ativa escolar, como por exemplo, por meio do canal 156 e de ações realizadas por cada escola dentro dos contextos de suas comunidades escolares atendendo às suas especificidades, que podem variar de acordo com a realidade de cada Regional de Ensino”.
A secretaria afirma, ainda, que desenvolve ações voltadas para o fortalecimento da assistência estudantil por meio da disponibilização do Cartão Material Escolar e uniforme escolar para todos os estudantes, investe em cursos de profissionalização e atua no fortalecimento de parcerias para oferecer oportunidades de estágio e trabalho aos estudantes.
Quem largou ou não terminou o ensino médio por outro motivo pode se inscrever em turmas de Educação de Jovens e Adultos (EJA). No DF, 95 unidades de ensino públicas contam com 32.958 estudantes.
A modalidade está disponível no formato presencial e à distância. As inscrições para a EJA podem ser feitas pelo telefone 156, opção 2, ou pelo site da Secretaria de Educação do DF.
Abandono nacional
Em março deste ano, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que, em 2023, em todo o país, nove milhões de jovens de 14 a 29 anos não completaram o ensino médio, seja por abandono ou por nunca terem frequentado uma escola.
Os dados estão presentes na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) Educação.
Desses 9 milhões que não conseguiram terminar o ensino médio, 58,1% são homens e 41,9% são mulheres. Já no recorte de cor ou raça, 27,4% se consideram brancos e 71,6% se autodeclaram pretos ou pardos.
O principal motivo, também a nível nacional, que faz essa faixa etária abandonar os estudos é a necessidade de trabalhar, de acordo com a Pnad Contínua Educação.
Por Samara Schwingel da Metrópoles
Foto: Reprodução / Reprodução Metrópoles