O Distrito Federal conta com apenas 647 dentistas na Secretaria de Saúde (SES-DF) para atender, em média, 3 milhões de habitantes, resultando em uma média de 4 mil pessoas por profissional. As nomeações de dentistas têm sido historicamente baixas, no ano de 2022, o Governo do Distrito Federal realizou um concurso para ampliar o número de cirurgiões-dentistas na saúde pública, oferecendo 50 vagas. No entanto, existem 653 cargos vagos na especialidade, em 2023, mais de mil dentistas foram classificados no concurso, mas apenas 134 profissionais foram nomeados.
Esse número insuficiente de dentistas pode comprometer a eficácia do investimento federal na saúde bucal no DF, por tanto o Sindicato dos Odontologistas do Distrito Federal (SODF) conseguiu renovar, no dia 05/07, por mais dois anos, o concurso da SES-DF, permitindo mais tempo para a convocação dos profissionais.
A moradora do Guará, Claudia Lustosa, de 53 anos, é dona de casa e relata a complicação de conseguir atendimento odontológico na UBS. Por não ter plano de saúde, ela depende do SUS para fazer o procedimento de arrancar o dente canino que está com a raiz quebrada, onde é preciso fazer uma restauração, “Fui no posto, com diagnóstico e o raio-x, a moça que me atendeu falou que não tinha dentista nem material, pegaram meu nome e pediram pra aguardar contato, já faz mais de 4 meses e nada”.
Aroldo Neto, cirurgião-dentista e diretor do SODF, explica que a falta de profissionais tem a haver com a falta de estrutura física para os atendimentos, “A SES-DF não faz ampliação das UBS, não cria novos espaços físicos para novos consultórios, as estruturas físicas dos DF são as mesmas desde a década de 80 e 90 e a população aumentou. Então não houve um crescimento de oferta de espaço físico de cirurgiões de dentista para população na mesma proporção do crescimento”. Desta forma, Aroldo enfatiza que para a assistência efetiva do cirurgião-dentista à população há necessidade de ter espaço físico e atendimento com equipamento odontológico e isso demanda realmente espaço e muito investimento.
Segundo a SES-DF, as Unidades Básicas de Saúde contam com 361 equipes de saúde bucal (cirurgiões-dentistas e técnicos de saúde bucal), que ofertam procedimentos básicos em Odontologia, como profilaxia (limpeza), periodontia básica (tratamento das gengivas), restaurações e pequenas cirurgias ambulatoriais, além da prevenção e educação em saúde em todas as regiões.
Programas de saúde bucal nas escolas
As portarias GM/MS 4.636/24 e SAPS/MS 40/24, publicadas no Diário Oficial da União em 1º de julho, instituem um incentivo financeiro de R$ 7 por aluno matriculado em escolas públicas, destinado a ações educativas, aplicação tópica de flúor, tratamento restaurador atraumático, kits de higiene bucal e materiais educativos.
O presidente do Conselho Regional de Odontologia do Distrito Federal (CRO-DF), Doutor Carlos Guimarães, conta que os cargos de cirurgiões-dentistas nas escolas foram extintos causando retrocesso. “Desde quando a Fundação Educacional deixou de existir, esse cargo foi desfeito. Assim, a fundação, sendo absorvida pela Secretaria de Estado de Saúde, tem feito um grande esforço para ampliar as ações nas escolas, diferente de antigamente, quando era facilitado pelos consultórios nos colégios.”
A comissão de Ação Social, do CRO-DF, ainda realiza ações em instituições de ensino e nas comunidades carentes, “Temos como objetivo a fiscalização da profissão e do exercício da odontologia e dos profissionais auxiliares, também fazemos um trabalho de esclarecimento para a população, explicando como encontrar um cirurgião-dentista devidamente registrado dentro da jurisdição do Distrito Federal e ressaltando a importância de buscar atendimento em saúde bucal”, detalha Carlos Guimarães.
Conforme o diretor do SODF Arolado Neto, a contratação de mais dentistas aumentaria o atendimento à população e melhoraria o uso do investimento federal na saúde bucal dos estudantes. “A prevenção é sempre o melhor tratamento. O Programa Saúde na Escola permite melhorar a saúde dessas crianças, prevenindo cáries e, consequentemente, outras doenças como gengivite, periodontite, abscessos odontogênicos, entre outros”.
O diretor enfatiza ainda a importância da Atenção Primária à Saúde (APS) nas Unidades Básicas de Saúde, que é o primeiro nível de atenção em saúde. “O atendimento na atenção primária está comprometido. Precisamos urgentemente compor as equipes com o máximo de carga horária possível e disponível. Hoje, trabalhamos sobrecarregados e ainda com uma estrutura de 10 anos atrás, ou seja, sem ampliação e atualização”, conclui.
Por Jornal de Brasília
Foto: Jornal de Brasília / Reprodução Jornal de Brasília