O número de casos de dengue no Distrito Federal deve continuar crescendo até meados de maio. A informação foi dada pelo subsecretário de Vigilância à Saúde do DF, Fabiano dos Anjos, durante o Dia D de combate à dengue, realizado na manhã de ontem em Santa Maria. É esperado que, nas próximas semanas, o DF siga registrando um grande número de pessoas infectadas com a doença.
Nos últimos meses, o Distrito Federal tem vivido a maior epidemia de dengue da história — de acordo com boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria de Saúde (SES-DF) do Distrito Federal, o DF teve um aumento de 1.575,9% nos casos prováveis em comparação a 2023. “Nós ainda estamos em um período considerado de aumento de casos da dengue, que vai até meados de maio. Então, por enquanto, a gente não tem observado uma tendência de diminuição de casos. A gente espera que, nas próximas semanas, nós ainda tenhamos um grande número de registro de casos, infelizmente”, lamentou o subsecretário.
Em combate à doença, o Governo do Distrito Federal tem realizado, semanalmente, mutirões de conscientização e serviços às populações das áreas com maior incidência do vírus. Durante o dia de ontem, 10 carros da Vigilância Ambiental percorreram as ruas da região administrativa para aplicação do “fumacê”, enquanto 30 agentes de Vigilância Ambiental em Saúde (Avas) e 180 bombeiros militares realizaram visitas domiciliares, no intuito de identificar possíveis focos de proliferação do Aedes aegypti.
“Temos pás carregadeiras e caminhões para fazer remoção de entulhos, carcaças e de tudo aquilo que possa ser inservível e acumular água pela região”, listou Fabiano. O mutirão realizado em Santa Maria marcou o 9° Dia D de combate à dengue realizado no DF. Nos próximos sábados, o evento passa por Sobradinho I, Fercal, Arapoanga, Gama e Itapoã.
O evento contou também com a presença da vice-governadora Celina Leão (PP) e da secretária de Saúde Lucilene Florêncio, que anunciaram a abertura de mais 11 tendas de hidratação no DF. “Até quarta, teremos essas tendas funcionando. Três delas abertas 24h por dia, para que nós possamos ampliar o atendimento”, assegurou Celina. “Não espere para procurar uma unidade básica de saúde, não espere para começar a se hidratar, não dê chance para a desidratação ou qualquer outro tipo de desconforto”, ressaltou. Segundo a vice-governadora, o GDF já realizou mais de 300 mil atendimentos de dengue.
Além dos caminhões de fumacê e visitas domiciliares, foram realizadas testagens gratuitas para a doença. Com altos casos de infecção, a fila para a realização de testes reunia desde crianças até idosos com mais de 90 anos. A moradora de Santa Maria Márcia Galvão, 39 anos, já estava com sintomas da doença havia alguns dias e aproveitou o mutirão para fazer o teste. “Tenho sentido dor atrás dos olhos, dor no corpo e febre”, relatou Márcia.
Segundo ela, os cuidados em relação à dengue estão sendo tomados dentro da própria casa e na rua, com a passagem dos fumacês. O problema, no entanto, é na vizinhança da região onde mora. “Eu estou tomando os cuidados necessários, porém, acho que os vizinhos nem tanto. Às vezes, a gente até discute um pouco, porque eu cuido, e a vizinha não cuida. Ela tem muita planta, e eu acabo observando que acumula muita água parada. Como se trata de uma idosa, é um pouco difícil a situação. A gente até se oferece para limpar, mas ela não aceita”, contou.
Vacinação
Na semana passada, o GDF ampliou a faixa etária para imunização contra a dengue, que antes era de 10 a 11 anos e agora se estende a jovens até 14 anos. “Nós temos intensificado a vacinação e realizado diversas estratégias para fornecer o apelo em relação à imunização, trazendo conscientização sobre a importância dos pais levarem suas crianças e adolescentes para se vacinar”, pontuou Fabiano.
“É importante dizer que a vacina é segura e confere proteção para essa faixa etária”, afirmou. “Você que é pai, você que é mãe, é muito importante que você leve seu filho ou sua filha para vacinar. Não perca a oportunidade de evitar uma doença que, infelizmente, pode ter consequências que a gente não gostaria que tivesse”, finalizou o subsecretário.
Calor e dengue
A chuva vai dar uma trégua na capital do país nos próximos dias, e o aumento da temperatura vai predominar. A mudança repentina no clima acende o alerta para a proliferação do mosquito Aedes aegypti, o transmissor da dengue, doença que vem assombrando a população do DF nos últimos meses.
De acordo com o meteorologista Cleber Sousa, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a previsão é de que, nos próximos dias, no Distrito Federal, a chuva cesse e o calor prevaleça. “Há uma massa de ar seco em direção à região central do país que vai pegar o DF, então a umidade deve baixar com temperaturas quentes e secas para os próximos dias”, conta. “O verão astronômico acabou, mas o meteorológico continua”, detalha.
O biólogo Pedro Guilherme Alves explica que há estudos que comprovam que o calor deixa o mosquito da dengue mais ativo. “O calor faz com o seu tempo de incubação fique menor e, com isso, ele consegue transmitir ainda mais rápido as arboviroses, um tempo que era de 10 dias de incubação diminui para cerca de seis”, contou.
O especialista afirma que a cada um grau acima da temperatura mínima ocasiona um aumento de 45% de casos de dengue no mês posterior. “Isso reflete em uma maior preocupação porque as mudanças climáticas repentinas tendem a propiciar o ambiente perfeito para o mosquito da dengue terminar o seu ciclo de reprodução”, disse.”E, no DF, com esses tempos de chuva e depois estiagem fazem um cenário ideal para o Aedes aegypti”, finaliza.
Kênia Cristina de Oliveira, diretora da Diretoria de Vigilância Ambiental (DIVAL) da Secretária de Saúde (SES-DF), afirma que as altas temperaturas podem impactar na maior população de mosquitos e no aumento de casos no DF.”Os estudos vêm mostrando que aqui no DF tem uma superpopulação de mosquitos nos primeiros meses do ano por conta do calor”.
A diretora indica que a população continue com os cuidados efetivos. “Com fatores climáticos não há como interferir, mas é sempre indicado usar repelente e continuar atuando nas condições ambientes e não deixar recipientes expostos e, quando começa o calor, se for colocar bacias com água na casa para aumentar a umidade, é importante sempre estar monitorando esses possíveis criadores para não deixar que ciclo do mosquito continue”, alerta.
De acordo com o biólogo e pesquisador Frank Alarcón, da mesma forma que o calor afeta o comportamento dos insetos, também afeta o comportamento de suas vítimas. “Nós, humanos, passamos a utilizar menos peças de roupas, deixando mais expostas superfícies de nosso corpo, facilitando o recebimento de picadas de mosquitos”, afirma. Ainda de acordo com Alarcón, no calor, as pessoas buscam o ar livre para se refrescar e acabam se expondo e ficando vulneráveis a insetos transmissores do vírus.
Por Isabela Berrogain, Mariana Saraiva do Correio Braziliense
Foto: Agência Brasília / Reprodução Correio Braziliense