Secretaria de Cultura do DF inicia recuperação do patrimônio destruído no ato terrorista

Já foram tomadas as primeiras providências e tratadas as ações de cooperação com demais órgãos, como o Congresso, STF e Iphan

A Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal (Secec) atuará para a recuperação dos espaços, edificações, obras de arte e demais bens atingidos nos atos terroristas ocorridos na Praça dos Três Poderes no último dia 8. Nos últimos dias, a equipe da pasta visitou o local para verificar a situação do patrimônio cultural afetado. Já foram tomadas as primeiras providências e tratadas as ações de cooperação com demais órgãos, como o Congresso, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Até o momento, já está decidido que a Secretaria vai trabalhar na restauração de um painel de madeira de Athos Bulcão, em tinta vermelha brilhante, localizado no Senado, que sofreu talhe na sua superfície e avarias causadas por pedras. A equipe também vai restaurar uma tapeçaria de Burle Marx, que foi arrancada da parede e apresenta um rasgo de cerca de 30 centímetros numa das laterais, bem como modificações de coloração em partes que foram urinadas.

Além do Congresso e do edifício do STF, dois equipamentos culturais geridos pela Secretaria, o Museu Histórico de Brasília e o Espaço Lucio Costa também foram atingidos. A Praça dos Três Poederes sofreu afundamentos no piso, provocados pelo peso de veículos dos bombeiros que trafegaram no local, e teve blocos do calçamento arrancados e arremessados contra as estruturas, deixando vários buracos. “Felizmente o Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves e o Espaço Oscar Niemeyer não sofreram danos”, informa o subsecretário de Patrimônio Cultural (Supac), Aquiles Brayner.

A diretora de Preservação da Secec, Aline Ferrari, detalha que a cooperação envolve a elaboração de lista de materiais de restauro para aquisição, a definição de estratégias de recuperação e a higienização das peças, além de testes de pigmentação e coloração nas obras. O paciente trabalho começa com a construção do mapa de danos de cada peça, numa espécie de fotografia para cada tipo de avaria (o que foi descascado, quebrado, o que perdeu brilho, etc.), com legendas que tipificam a linha de ação. O prazo para a conclusão dessa etapa é de uma a duas semanas e só então poderá ser definido prazo estimado para a restauração em si.

Já no Espaço Lucio Costa, os cacos de vidro sobre a maquete representam um problema, porque a detalhada réplica da Capital Federal é antiga e de papel, o que dificulta imensamente sua recuperação e limpeza. “A maquete é muito representativa, mas não é tombada”, explica a servidora, esclarecendo que há, inclusive, a possibilidade de substituição.

No Museu da Cidade, onde as inscrições estão gravadas no mármore, o dano vai além do patrimônio e atinge direitos de acessibilidade e cidadania, prova do desprezo dos vândalos também pelo acesso à cultura. “Lá, eles quebraram todas as legendas em braille”, relata Aline, em referência aos conteúdos que eram todos aplicados sobre suportes de acrílico.

Na galeria de quadros de ex-presidentes do Senado, no Congresso, várias telas foram rasgadas ou perfuradas. Um aspecto curioso observado pela diretora de Preservação é que a escultura “Mulher nua”, criada por Alfredo Ceschiatti (o mesmo que esculpiu os anjos da Catedral de Brasília), resistiu bravamente às tentativas dos agressores. Vídeos dos atos de vandalismo do dia 8/1 mostram que tentaram derrubá-la de seu suporte de mármore. “Ela só precisará ser higienizada”, atesta a servidora, destacando que a peça foi carinhosamente rebatizada pelas restauradoras da Secec de “Resistência”, em uma significativa alusão à luta feminina contra toda sorte de violência no país.

Por Redação do Jornal de Brasília

Foto: Hugo Lira/Secec / Reprodução Jornal de Brasília